O sonho de tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) se tornou um pesadelo para a turismóloga Valdirene das Dores, 35 anos. Desde o ano passado, ela tenta passar no exame prático, mas já foi reprovada seis vezes.
O caso de Valdirene, que coleciona aulas extras em autoescola e tem que conviver com o nervosismo a cada novo exame, ilustra uma realidade para muitos baianos.
Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran- BA) apontam que, entre janeiro e julho deste ano, um terço dos candidatos que fizeram o exame foi reprovado. No período, 231.470 pessoas fizeram os exames e 75.396 candidatos foram considerados inaptos, o que representa 32,6% do total.
As principais explicações para o alto número de reprovação - apontadas pelo Detran e Sindicato das Autoescolas (Sindauto) - são o nervosismo dos candidatos, pelo fato de estarem sendo avaliados, e o despreparo dos alunos e até de instrutores.
No entanto, especialistas acreditam que estas são explicações superficiais e apontam que o grande problema está no "deficiente" processo de formação de condutores em todo o País.
Estabilidade
Este índice tem se mantido estável desde o ano passado, quando a taxa de reprovados foi de 32,72% - 211.549 pessoas fizeram o teste e 69.231 foram consideradas inaptas.
"A maior dificuldade é o nervosismo. A cada vez que eu perdia, voltava ainda mais nervosa e insegura para fazer o exame", confessa Valdirene. Na última quinta-feira, ela fez o teste pela sétima vez e aguarda o resultado.
O assessor técnico da diretoria geral do Detran, major Genésio Luide, conta que o nervosismo apontado por Valdirene é o principal fator responsável pela reprovação dos candidatos.
"Na aula prática, é previsto que ele faça baliza, meia embreagem. É reproduzido tudo o que vai acontecer na avaliação. Mas ele não consegue fazer, justamente pelo estado emocional", explica.
Na manhã da última quinta-feira, o site A Tarde foi ao final de linha da Ribeira para acompanhar a realização das provas. Uma das principais reclamações é a longa fila de espera. Alguns candidatos chegam a esperar até 4h para fazerem a prova.
"O pior é ver que muitas pessoas saem do local chorando porque perderam. Cheguei aqui às 7h e só consegui fazer o exame às 11h. Isso aumenta a tensão", diz a técnica de enfermagem Elisângela Bastos, reprovada na baliza, primeiro teste do exame.
Genésio Luide conta que no local há uma sala de espera e que, por conta da grande quantidade de candidatos, a fila é inevitável.
Outra queixa de alunos é quanto ao despreparo de instrutores de centros de formação. "Alguns nem olham quando você está dirigindo. Eles só espera passar o tempo para a aula acabar", conta o estudante Pedro Souza, 21.
O presidente do Sindauto, Abelardo Filho, admite o problema, mas ressalta que os centros estão investindo na formação dos instrutores.
Para o administrador de condomínio Claudionor Nunes, 49, que já perdeu duas vezes no teste prático, os métodos de ensino são insuficientes e o exame é falho.
"As aulas não deixam ninguém apto a dirigir. No teste, se você encosta na baliza, é eliminado, não tem outra chance. Isso não é educação, é repressão", opina.
INFORMAÇÕES SOBRE O EXAME
Eliminatórios
Errar na baliza ou meia embreagem, andar sobre o meio-fio e desobedecer sinalização de parada obrigatória são as mais frequentes
Três pontos
Não parar para um pedestre e não observar as regras de ultrapassagem ou de mudança de sentido
Dois pontos
Entrar nas curvas em ponto neutro e usar o pedal da embreagem, antes de usar o pedal de freio nas frenagens
Um ponto
Dar partida ao veículo com o freio de mão puxado ou em ponto morto e apoiar o pé na embreagem com o veículo engrenado e em movimento
O candidato pode atingir no máximo três pontos.
Fonte: A Tarde