Vinte e cinco dias atrás, a dúvida que acompanhava a corrida presidencial era se Dilma Rousseff venceria no primeiro turno ou se ela enfrentaria o tucano Aécio Neves (PSDB) na segunda etapa das eleições. Mas o acidente que matou Eduardo Campos alterou a disputa e, em poucos dias, Marina Silva (PSB) passou a ser a candidata com melhor percentual nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno – que se tornou inevitável.
Faltam 28 dias para o primeiro turno das eleições e a disputa entra agora na etapa em que as decisões se tornam ainda mais calculada. O enredo se repete: quem está à frente tenta manter o jogo inalterado, enquanto os candidatos em desvantagem arriscam mais porque já não têm muito o que perder. É uma etapa decisiva, onde os erros podem ser incorrigíveis – o tempo é escasso.
As pesquisas mostram um equilíbrio entre Dilma e Marina no primeiro turno, e uma vantagem da candidata do PSB na rodada final. A folga, entretanto, já foi maior. E a máquina petista, muito mais poderosa, não pode ser desprezada. Por outro lado, Aécio Neves tem currículo e suporte partidário para conquistar uma fatia considerável do eleitorado. Falta-lhe, até aqui, o poder de reação. E, a cada dia em que ele continua no terceiro lugar das pesquisas, torna-se mais patente o dilema envolvendo a campanha tucana: aumentar a agressividade ou poupar-se para o futuro?
O manual do marketing político consolidou a tese de que o ataque não funciona. A regra, entretanto, costuma ser respeitada apenas até o momento em que não há alternativa: "A última instância é a desconstrução da imagem do seu adversário", diz Carlos Manhanelli, que tem quatro décadas de experiência em marketing eleitoral.
Com cerca de 15% das intenções de voto, o tucano precisaria de um fato novo no cenário para chegar ao segundo turno. Com pouco a perder, ele poderia intensificar os ataques a Marina Silva, com quem disputa o eleitorado oposicionista. Mas isso não só aumentaria o risco de um efeito reverso como destruiria a possibilidade de uma aproximação dos dois no segundo turno – e em um eventual governo de Marina.
Da parte do PT, o discurso oficial é de que a eleição que importa vai começar após o primeiro turno, e que o voto do eleitor só agora começa a se consolidar. "O eleitor começa a se decidir em setembro", diz o presidente do PT, Rui Falcão. Ainda assim, a nítida guinada ao ataque da campanha de Dilma na última semana tornou evidente a preocupação do PT com a ascensão de Marina Silva: a campanha "propositiva" deixou de ser prioridade e as críticas à adversária se intensificaram.
Se transformar os números das pesquisas em votos, Marina Silva vai se comprovar um fenômeno raro: com apenas dois minutos de televisão e uma estrutura modesta de campanha, terá derrotado adversários com mais recursos, mais tempo de TV e mais apoiadores no mundo político. Talvez porque tenha captado com mais habilidade o sentimento de insatisfação do eleitor. "As pessoas votam muito mais na imagem do candidato do que propriamente numa proposta estruturada", diz o professor Fábio Iglesias, que leciona no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e também estuda o comportamento dos eleitores.
A imagem de Marina é que tem se tornado alvo dos adversários nos últimos dias. As mudanças no programa de governo e as contradições de seus discursos parecem ser o flanco sobre o qual petistas e tucanos podem avançar. Segundo o professor Iglesias, a mesma imprevisibilidade que deu a vantagem a Marina pode voltar a alterar o cenário eleitoral. Pela última pesquisa Datafolha, 29% dos eleitores podem mudar de voto – praticamente 70% dizem estar decididos.
Um quarto dos eleitores de Dilma e 30% dos eleitores de Marina não estão totalmente decididos, o que pode ser uma boa notícia para Aécio. O problema é que o eleitorado do tucano é ainda mais vulnerável: 34% de seus eleitores podem mudar sua escolha. Carlos Manhanelli acredita que as intenções de voto de Marina ainda podem estar infladas pelo fator emocional gerado pela morte de Eduardo Campos. "O cenário só vai se abrir nos últimos quinze dias de campanha", diz ele.
Embora sejam raras, as reviravoltas acontecem. Faltavam cerca de dez dias para o segundo turno em 1989 quando Fernando Collor levou ao ar o depoimento de Miriam Cordeiro, que acusava o petista Luiz Inácio Lula da Silva de ter pedido que ela fizesse um aborto, em um episódio que, para o bem ou para o mal, ajudou a decidir as eleições daquele ano.
Em 25 de setembro de 2012, Celso Russomanno tinha 34% das intenções de voto para a prefeitura de São Paulo. Fernando Haddad (PT) tinha 18% e José Serra (PSDB), 17%. O segundo turno, entretanto, foi decidido entre o petista e o tucano.
A capilaridade das redes sociais facilitou a difusão de informação e aumentou a velocidade com que o cenário eleitoral se modifica. As distâncias entre os eleitores se tornaram menores e mais suscetíveis a alterações. Mas dificilmente isso ocorreria na reta final sem um fato novo que alterasse o rumo da eleição. "Fatos novos" quase sempre são notícias negativas sobre um determinado político, como o que atingiu Roseana Sarney nas eleições de 2002. Um mês é tempo mais do que suficiente para uma mudança. Faltam apenas 28 dias para as eleições, calculam os favoritos. Ainda faltam 28 dias para as eleições, argumentam os candidatos em desvantagem.Fonte:Veja