Quando os institutos de pesquisa flagraram na semana passada a arrancada do candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, ultrapassando Marina Silva (PSB), no segundo lugar, o PT comemorou. Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano era um adversário mais fácil de ser derrotado do que Marina Silva (PSB). No entanto, o Aécio que as pesquisas mostraram não é aquele que chega de fato ao segundo turno. Com 33,5% dos votos, ele ficou pelo menos sete pontos acima daquilo que a mais otimista das previsões apontava. E não é só: os 41% de Dilma nas urnas representam o pior desempenho do PT na corrida presidencial desde que chegou ao poder em 2002 – pior do que o dela mesma há quatro anos, quando marcou 46,9% ao final do primeiro turno.
Outro fator que deve alarmar os petistas é o fato de que Marina Silva, em seu discurso pós-urnas, já fez um aceno ao tucano, mostrando que uma aliança entre eles pode ser costurada. "Temos de ser coerentes com o sentimento de uma mudança qualificada. A sociedade brasileira está dizendo que não quer o que está ai", disse. O PSDB iniciou conversas com dirigentes do PSB antes mesmo da confirmação do quadro eleitoral. Em seu discurso noturno, Aécio lembrou o "amigo" Eduardo Campos, num recado direto ao PSB. Uma das ideias de Aécio é um grande ato político na largada da campanha do segundo turno em Pernambuco, ao lado de Renata Campos, viúva do ex-governador, e de Paulo Câmara, afilhado político de Campos e governador eleito com votação arrebatadora.
Após a consolidação do resultado, dirigentes regionais do PSB defenderam o alinhamento com a candidatura do tucano. "O Brasil enfrenta um momento muito delicado em sua economia e, também, um esgarçamento no seu tecido político. É fundamental lutarmos para o país voltar a crescer e indispensável uma reforma política. Creio que Aécio Neves conquistou a condição de liderar esse momento da política nacional", disse o atual governador de Pernambuco, João Lyra Neto. "Iremos colaborar para o Brasil fazer a mudança que precisa ser feita. Seremos pró Aécio. Se o Eduardo estivesse aqui essa seria a posição dele", afirmou Márcio França, eleito vice na chapa do governador paulista Geraldo Alckmin.
Embora não tenha expressado apoio imediato, o gaúcho Beto Albuquerque, que concorreu como vice de Marina Silva, deu a entender que o caminho para uma aliança está aberto. "Nossos eleitores não foram eleitores de voto útil, mas foram eleitores de um programa de governo. Nós vamos manter isso", disse ao site de VEJA. "Meu partido vai se reunir e nós vamos discutir isso para saber para onde vamos, mas, pessoalmente falando, eu teria muita dificuldade em votar numa candidatura que desferiu todo tipo de golpe contra nós, que é a candidatura da Dilma."
Outro aceno importante para Aécio veio de Geraldo Alckmin, governador reeleito de São Paulo: "A partir desse momento, o partido está empenhado em garantir a vitória de Aécio Neves para a Presidência da República". As estrelas do firmamento tucano nem sempre estão alinhadas, mas se Alckmin se aplicar na campanha do correligionário, pode dar um trunfo inestimável a Aécio, que obteve mais de 10 milhões de votos no maior colégio eleitoral do país. Para tucanos, como Alckmin teve 12,2 milhões de votos e a rejeição de Dilma é altíssima em território paulista, Aécio ainda tem grande potencial de crescimento no estado – o alvo são os 5,7 milhões de votos de Marina.
A campanha tucana avalia que uma das tarefas obrigatórias é reverter o quadro em Minas Gerais, terra natal de Aécio e segundo maior colégio eleitoral do Brasil. Aécio perdeu – 43,4% a 39,7% –, seu candidato ao governo, Pimenta da Veiga (PSDB), perdeu, mas a trajetória das últimas semanas foi ascendente e sugere que é possível reverter a situação
Um acordo com Marina, um palanque forte em Pernambuco - onde alguns votos podem ser roubados de Dilma Rousseff -, tucanos mobilizados em São Paulo e ainda a possibilidade de virar o jogo em Minas: será que era mesmo esse o Aécio Neves que Lula e o PT gostariam de enfrentar?Fonte:Veja