quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Samuel Celestino:" Uma campanha que espanta "
Creio que estamos diante do processo sucessório presidencial mais intrigante que se tem notícia, excetuando-se o período da República Velha, em que a eleição era diferenciada porque se votava a bico de pena. A campanha eleitoral brasileira é marcada pela morte de um candidato, pela substituição por Marina da Silva, pelo processo de desconstrução da sua candidatura a partir de procedimentos inadequados e incivilizados, senão repelentes, pela queda progressiva de Marina até cair na véspera do primeiro turno, dando lugar a Aécio Neves. Na sequência, o tucano passou a liderança numérica da eleição, mas em empate técnico com Dilma Rousseff. É de se esperar que novas surpresas aconteçam porque, por mais incrível que possa parecer, nas duas últimas semanas as pesquisas dos dois institutos mais credenciados, o Ibope e o Datafolha, apresentaram resultados de percentuais idênticos para Aécio Neves e Dilma, com o primeiro mantendo-se na liderança com dois pontos percentuais à frente. É difícil que isso se repita, ainda mais quando, à margem da campanha, surgem escândalos que enrubesceriam um frade de padre, a partir da Petrobrás, com a participação de partidos políticos e “agentes públicos”, cujos nomes ainda não chegaram à luz. Isto leva o escândalo a transferir-se para 2015, quando todos os nomes serão do conhecimento público, presume-se, e certamente haverá processos que irão além, muito além do mensalão que, diante da petroleira estatal, passa a parecer um nada. De tal modo que os mensaleiros presos no ano passado pouco a pouco estão saindo da penitenciária da Papuda, como se estivessem passando apenas umas férias diferentes. O fato é que a campanha presidencial deste ano espanta pela riqueza de fatos, pelas estranhas repetições de percentuais sem que haja mudança de atores. É tão estranho que o processo eleitoral para Presidência da República aconteça em sobressaltos como se estivesse a colocar em teste as condições cardíacas dos candidatos.