Dilma e Aécio comportaram-se relativamente bem, no debate do domingo, na Record. Estocadas esparsas. O que está a acontecer nestes debates é uma estranha mudança em termos de confronto de idéias entre os dois candidatos à Presidência. Dilma, principalmente, prefere e sente-se melhor retrocedendo ao passado para chegar ao dia 1º de janeiro de 1995, quando Fernando Henrique foi empossado na Presidência. Constantemente, ela retorna aos anos 90, deixando de lado o confronto entre ela e Aécio.
Leva a transparecer que, pelo menos, ela quer discutir o que aconteceu nos últimos 20 anos da democracia brasileira. Grande parte dos eleitores, os que têm menos de 30 anos, não se interessam em conhecer o que se passava na política brasileira durante a sua infância. Observa-se um fato curioso. Quando FHC tomou posse, o Brasil apenas elegera o primeiro presidente, democraticamente, cinco anos antes. Tancredo fora eleito indiretamente pelo colégio eleitoral instituído pela ditadura, e morreu antes da posse, abrindo vaga para Sarney. O primeiro, eleito, por conseguinte, foi Fernando Collor que caiu por força de um impeachment, exatamente em consequência da corrupção no seu governo, que depois seria absolvido pelo STF.
Em sequência, seguiu-se Itamar Franco, que teria FHC como ministro da Fazenda, a quem coube derrubar a inflação com o Plano Real. No entanto, volta e meia o debate resvala para 20 anos no passado de sorte a atingir FHC, que nada tem a ver com 2014. De tal modo que, em dado momento do debate, Rousseff, dirigindo-se ao seu interlocutor, largou um “no seu governo”, ao que Aécio, com ironia, respondeu: “você está equivocada, eu nunca fui presidente”.
O que transparece com nitidez é que, ao invés de dois candidatos, litigam pelo poder dois partidos políticos, o PSDB, que passou oito anos no poder, e o PT, que fecha no final de dezembro 12 anos e tenta mais quatro. É provável que a razão da baixíssima qualidade dos debates esteja no desejo de alcançar a população com menor nível de escolaridade. Mesmo assim não parece bater com exatidão. Porque utilizam – e não há como fugir – certos termos incompreensíveis para o povão, mas inerentes à política. Seguramente, as pessoas com menor escolaridade ficam alheias e não entendem as expressões utilizadas pelos candidatos.
Mesmo nos confrontos de baixa qualidade (baixaria, quero dizer) a classe com menor nível de alfabetização talvez não compreenda ao certo, porque as estocadas ferinas sãos entendidas apenas pelos escolarizados. A camada da baixa renda absorve apenas quando a questão está em torno do bolsa família. Levando-se em consideração a Bahia, neste caso o entendimento que alcança são os poucos escolarizados, quase analfabetos, numa multidão de 15 milhões de habitantes. Esta faixa entende perfeitamente este beneficio, que começou no governo FHC e ganhou grande impulso, já com o nome de bolsa família, no governo Lula.
Aliás, há que se tomar cuidado porque o benefício pode acabar corroído pela inflação, que ataca, principalmente, a classe média, média-baixa e baixa, assim como o desemprego que costuma acompanhar esta época de crise econômica, como se observa.
Estamos na última semana da campanha eleitoral. Demorou – culpa do calendário - mas estamos na reta final que acontecerá no próximo domingo, ou seja, excetuando esta terça-feira, mais cinco dias e, aí, comemorarão os dilmistas, se ela foi eleita, ou os aecistas, se houver um rompimento do ciclo petista do poder no País. Dois meses depois teremos um novo governo. Seja quem for eleito, espera-se um período melhor e mais limpo do que este, onde a Petrobras quase desaparece na fumaça com tamanha corrupção que, estranhamente, ocorria em todos os cargos de diretoria da estatal, com a participação (suposta) de três dezenas de políticos (se não for mais). Curioso ou mentiroso é que ninguém sabia de nada do que se passava entre o óleo e a fumaça.Fonte:Atarde