quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Governo federal finalmente admite crise no setor elétrico e recomenda que consumidor poupe energia
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu, como se noticiou, a existência de racionamento de água em São Paulo? Não que eu tenha visto. Mas afirmou o óbvio: existe, sim, uma crise, determinada pela falta de chuva. Alckmin falou em “restrição hídrica”. No mesmo dia, o novo ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, recomendou que a população reduza o consumo de energia elétrica em razão do “sistema hidrológico alterado”.
Disse Braga: “Eu acho que isso é importante sim [a redução do consumo de energia]. Eu acho que, do mesmo jeito que nós estamos tendo a realidade, por exemplo, em São Paulo, em que o consumidor está tendo que reduzir o gasto de água porque há um problema hídrico, o setor elétrico está sendo vítima do ritmo hidrológico. Então, é natural, sim (reduzir o consumo). Se pudermos economizar, se pudermos controlar, isso ajuda para que nós possamos ter eficiência energética, redução de consumo, redução de gastos nessa área e, obviamente, isso impacta positivamente a tarifa”.
Que havia uma crise no abastecimento de água em São Paulo, isso, convenham, todos reconheciam. E, é evidente, se não chover nas represas o necessário, acabará havendo cortes no fornecimento. O que é novo nessa equação — e não deixa de ser de um saudável realismo, ainda que tardio — é o governo federal reconhecer que o país enfrenta problemas também no setor elétrico.
Nem é preciso recuar muito no tempo. Há três meses, durante a campanha eleitoral, o PT e Dilma Rousseff tentaram jogar nas costas do governo de São Paulo a responsabilidade pelos problemas de abastecimento de água, como se o setor elétrico não fosse parte da mesma equação.
A energia elétrica já está se tornando progressivamente mais cara, e novos aumentos vêm por aí. Também o governo de São Paulo espera diminuir o consumo de água mexendo no preço. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador José Renato Nalini, liberou na noite desta quarta a cobrança de multa para os gastões, instituída pelo governo e pela Sabesp. Nalini suspendeu a liminar que impedia a cobrança da sobretaxa de 40% a 100% para consumidores que excederem a média mensal de gasto de água.
Governo do Estado e Sabesp fazem uma ampla campanha em favor da economia de água. O Planalto, até agora, tem evitado recomendar que a população economize energia. Seria como admitir o insucesso da política energética da era Dilma. Que se lembre: há dois anos, por meio da MP 579, o governo permitiu que as empresas geradoras e transmissoras antecipassem as concessões desde que seus preços fossem regulados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), com uma redução de 20% nas tarifas. O setor quebrou.
Para arrematar: o país está bem perto de uma crise no fornecimento de energia elétrica crescendo 0,3% em 2014 e com expansão prevista de 1% neste ano. Crescesse a 4%, já estaríamos às escuras. Deve ser esse o planejamento de que Dilma tanto se orgulhava.
Por Reinaldo Azevedo(Veja)