A presidente Dilma, embora recolhida em silêncio por não ter nada mesmo a dizer, apenas assiste ao seu governo impor medidas impopulares neste primeiro mês de segundo mandato, muito distante do que pregou para se eleger - com dificuldades - em outubro último. Não há alternativa. Ela quebrou a economia do País no primeiro quadriênio a partir de uma política equivocada. Imputou a crise à economia internacional, o que não foi bem assim porque os Estados Unidos – sempre uma referência para os países de modo geral – atravessam um período de amplo desenvolvimento. Já o Brasil não encontrou seu caminho. Preferiu outras trilhas ao acasalar-se com o populismo sul-americano, notadamente o chavismo. Deu no que agora se observa. O povo paga o preço a partir de uma enxurrada de aumentos, único caminho para tentar-se sair da situação em que ora se encontra.
Num contraste, o País deixa o caminho da modernidade que ameaçou trilhar, a caminho da igualdade. A melhoria da condição de vida da população já não está em pauta. Acentua-se o desnível absurdo e inconcebível através do segmento político. Os aumentos são somente para este segmento, abrangendo a presidente, governadores, ministros, secretários, parlamentares. Todos aceitam e festejam reajustes de seus salários ou subsídio. São saltos absurdos dos valores antes praticados e os que passam agora a viger. A austeridade sucumbiu.
Somente neste mês de janeiro 27 governadores recepcionaram aumentos com elevados percentuais enquanto a população, distanciada, é obrigada a se conformar sem alternativa, com a onda de aumento de preços, o que faz o Brasil voltar à condição da república bananeira, como costumava dizer, sempre que a frase permitia, o falecido deputado Ulysses Guimarães lá nos anos 80, quando o País enterrara a ditadura e se preparava para abraçar a democracia. Ulysses se referia à necessidade de uma mudança modernizadora.
Muito pior do que os aumentos concedidos à classe política e, em decorrência, a outros segmentos, foram as repugnantes aprovações pelas assembleias legislativas de aposentadorias vitalícias para os governadores de diversos estados, inclusive o da Bahia. Os beneficiados, sem comentários, concluíram o mandato e passaram a perceber aposentadorias com valores altíssimos. Não somente. Concederam-lhes o direito, igualmente vitalício, de dispor de veículo, motorista, seguranças e assessores. O Brasil estaria ou está em condições de ofertar vantagens como tais depois de quatro ou oito anos de mandato? E, principalmente, diante da situação complicada que agora se encontra?
Permitam-me um pequeno parágrafo para uma exceção histórica: fato semelhante aconteceu na Bahia. Não com tamanha desfaçatez, mas, apenas, a um, exclusivamente a um ex-governador, Régis Pacheco, que governou o estado depois do acidente aéreo que matou o então candidato ao governo estadual Lauro Farani Pedreira de Freitas, no primeiro quadriênio dos anos 50. Régis Pacheco era médico em Vitória da Conquista e foi chamado a ser candidato. Deixou sua clínica, governou sem brilho, mas com absoluta honestidade em relação aos negócios públicos. No final da vida, Régis, doente e paupérrimo, não tinha sequer dinheiro para custear os medicamentos de que necessitava. O então deputado estadual socialista Newton Macedo Campos (já morto) propôs a concessão de aposentadoria para Régis de sorte que o ex-governador não morresse à míngua. A Assembleia, sabiamente, aprovou a concessão, mas exclusivamente a ele, sem estender aos governadores a partir daí. Foi o único caso.
As dificuldades econômicas que o País ora atravessa não poderiam dar margem a concessões absurdas que ora se observa. Nem agora nem em tempo algum. Governava-se com um mandato estabelecido pela Constituição, sem direito a vantagens posteriores. Quando acontece, num só momento, facilidades políticas e dificuldades a partir dos aumentos anunciados que logo, logo o povo sentirá as consequências no seu bolso, não dá para entender e digerir. É forte, pesado, falar-se em república bananeiras. Pena. Retorna-se ao passado da politicalha indecente. Que falta faz Dr. Ulysses.Fonte:Bahia Noticias