Imersa em uma crise política de dimensões comparáveis à que sucedeu a descoberta do mensalão, a presidente Dilma Rousseff tentará, agora, incluir o vice-presidente Michel Temer na articulação política. Ela se reúne com o presidente do PMDB na manhã desta segunda, em encontro do qual devem participar seis ministros do chamado núcleo duro do governo - Aloizio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Pepe Vargas (Relações Institucionais), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Jaques Wagner (Defesa).
No domingo, Dilma já havido reunido o núcleo político para discutir os desdobramentos da Operação Lava Jato - horas mais tarde, o pronunciamento da presidente em rede nacional de rádio e televisão, foi marcado por protestos nas ruas dos maiores Estados do país - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de Brasília.
Na reunião de domindo, segundo o jornal O Globo, Dilma sacramentou que pedirá ao vice que integre a coordenação política.
Até agora, a presidente tem mantido o vice alijado da articulação política. Ele sequer foi convidado para uma reunião em que Dilma recebeu lideranças do Congresso no Palácio do Planalto.
A já contubada relação de Dilma com o PMDB deve ficar ainda mais tensa com a revelação da lista de políticos que passarão a ser investigados pela Lava Jato. Base aliada e oposição preveem uma temporada de derrotas significativas para o governo.
Na primeira semana após a divulgação da lista, senadores e deputados apreciarão vetos presidenciais, entre os quais o da correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo atua para evitar essa votação, mas alguns parlamentares dão como certa a derrubada do veto.
Os parlamentares acusam o governo de tentar transferir para o Congresso a crise política provocada pela Lava Jato. Alguns, entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de receber do esquema, acusam o Planalto de interferir diretamente na lista encaminhada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. No PMDB, partido do presidente da Câmara e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) - que também está na lista de suspeitos -, a insatisfação é generalizada. "O governo, para sair do olho do furacão, está jogando tudo para o Congresso. Ninguém vai aceitar isso", diz Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Ao longo do dia, a presidente seguirá com a série de diálogos que iniciou na tentativa de melhorar o relacionamento com o Congresso Nacional. No fim da tarde, Dilma recebe líderes dos partidos aliados no Senado, às 17h30. A reunião com parlamentares ocorre depois da divulgação da lista de políticos que serão investigados no âmbito da Lava Jato.
A relação foi enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal e divulgada na última sexta-feira. Serão investigados 11 senadores, 26 deputados federais e outras pessoas sem prerrogativa de foro acusadas de participação no esquema. Entre os parlamentares, estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
(Com Estadão Conteúdo)