O ministro do Supremo Teori Zavascki, relator do caso do petrolão, pode afastar nesta sexta o sigilo dos 28 pedidos de inquérito, que devem levar à investigação de 54 pessoas, 45 delas com mandato parlamentar. Não mudei de ideia no cotejo com o que escrevi ontem, anteontem, há três anos ou a há oito.
O ex-ministro do Supremo Cezar Peluso, um homem decente, sempre esteve certo: o fim de sigilo de inquérito não é a fina flor de uma sociedade democrática e de direito. Eventuais inocentes podem ficar marcados para sempre. “Ah, Reinaldo, não há inocentes no Brasil; só culpados.” É um jeito tosco de pensar. Converse com um advogado de sua confiança. Adiante.
Sejamos, no entanto, realistas: com ou sem sigilo oficial, sigilo não haverá. Em parte, já não há. Então que se libere tudo de vez! Saberemos quais sãos as reais diferenças entre pessoas que estão com o mesmo status legal: alvos de pedidos de inquérito. E se evidenciará o absurdo de não haver, entre elas, as já denunciadas.
Mas derivei um pouco. O ponto não é esse. Tão logo se divulguem os nomes dos 54, tentarei saber quantos são ligados ao Poder Executivo. Não posso crer, por um motivo simplesmente lógico, que, numa ponta, estivessem os empreiteiros, corrompendo; na outra, os políticos, levando a grana; no meio, burocratas da Petrobras que faziam o jogo dos partidos e roubavam também para si mesmos.
Você que me lê aí: acha que um esquema, dada a dimensão que esse tinha, se sustenta sem garantias politicamente mais fortes? Como gosta de dizer o ministro Marco Aurélio, do Supremo, “a resposta, para mim, é desenganadamente negativa”.
Que o tal sigilo, então, se vá. Antes a informação completa do que os vazamentos seletivos, que sempre fazem parte da estratégia de alguém contra alguém, e nós, da imprensa, acabamos servindo de inocentes úteis de táticas de defesa e ataque. Há algo de profundamente errado, de ancestralmente deturpado, quando um procedimento como o afastamento do sigilo acaba servindo para, de algum modo, proteger a sociedade.
Dado o andamento das coisas, liberar tudo é uma forma de evitar a manipulação grotesca. Quando o ruim é a única alternativa ao pior, então, infelizmente, passa a ser o bem possível. Aguardemos, agora, a “Lista de Zavascki”.
Por Reinaldo Azevedo(Foto)