Faz alguns anos que o PIB do Brasil é bem menor que o de alguns vizinhos da América Latina. Mas isso não tomava do maior país do bloco o papel de locomotiva da economia da região. Num relatório sobre perspectivas para o crescimento dos países latino-americanos, o Fundo Monetário Internacional mostra que, de locomotiva, o Brasil virou “vagão enguiçado”.
A previsão do FMI é de que a América Latina tenha crescimento de 0,9% em 2015, ante 1,3% do último documento. Para o Brasil, a revisão foi ainda mais forte, de alta de 0,3% para queda de 1% do PIB deste ano – anunciada há alguns dias. Engatados no Brasil estão a Venezuela, que terá um desempenho pior do que o nosso, e a Argentina, que também vai encolher, apesar de terem menor relevância (perdida há pouco tempo) que nós.
Lá na frente do comboio estão México, Peru, Colômbia e Chile, que estão com a casa mais equilibrada, com crescimento positivo, inflação sob controle e necessidade de ajustes menos intensos como os que o Brasil precisa adotar. Para o Itaú-Unibanco, México deve crescer 2,6% em 2015, com uma inflação de 3%; para Colômbia, os economistas do banco esperam PIB de 3,2% e inflação de 3,7% este ano – para citar dois exemplos.
De sofrimento em comum, os países da América Latina têm a queda no investimento como um dos principais motivos para um pior desempenho da economia. Outro ponto que nos mantêm juntos na descida é a queda dos preços de commodities, já que somos quase todos dependentes dos consumidores de matéria prima e mais dependentes ainda de fabricantes de produtos com maior valor agregado – uma troca que não gera benefícios em tempos de crise.
Voltando ao relatório do FMI, além das revisões negativas das perspectivas para a economia, a entidade faz um diagnóstico do efeito que atingiu o mundo todo depois da crise de 2008: o crescimento potencial está menor, ou seja, está mais difícil crescer sem gerar distorções. A perda na capacidade de expandir a economia se deu principalmente pela queda da produtividade e pelo envelhecimento da população – neste caso, mais relevante nos países desenvolvidos. Na América Latina, pesa mais a baixa qualificação da mão de obra.
Produzir menos, com menor qualidade, num ambiente sem crédito para o consumo, confiança em queda, baixo investimento e desequilíbrios macroeconômicos é uma realidade que o Brasil enfrenta, provavelmente em seu grau mais agudo. O sacolejo nos fundamentos vai gerar novos pilares e seria muito bom que o país assumisse o comando das mudanças para ter mais controle sobre os resultados. As reformas estruturais, a responsabilidade com as contas públicas e a redução da inflação são obrigatórias para uma construção mais equilibrada. Fonte:Thais Herédias(G1)