Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, minimizou nesta quarta-feira (13) os impactos da decisão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) de declarar inconstitucional a lei municipal de Feira de Santana que proibia a comercialização de bebidas alcoólicas na Sexta-Feira da Paixão. Para o arcebispo, não haveria necessidade de uma lei específica, mas de uma campanha de conscientização da população. “Antes de saber desse problema em Feira de Santana, eu já estava preocupado.
A primeira vez que eu visitei o Hospital Geral aqui de Salvador, eu perguntei para os médicos: ‘Qual o pior dia de atendimento aqui’? Nunca poderia imaginar que ouviria a resposta que eles me deram. Sexta-feira santa. E aí eles me explicaram que é costume as famílias se reunirem, começarem a beber e depois começarem as brigas e desentendimentos”, contou, em entrevista ao Bahia Notícias.
A situação é semelhante à vivida no município do centro norte baiano. De acordo com o procurador do Município, Magno Felzemburgh, no pleno, o autor da ação entendeu que a lei visa “proteger o ser humano”, e que não foi uma tentativa de cercear a liberdade empresarial, e que tampouco, foi uma lei de “cunho religioso”. “A Sexta-feira da Paixão foi considerada a ‘sexta-feira do terror’.
É o pior dia do ano no plantão do Hospital Geral Clériston Andrade”, explica Felzemburgh. Por isso, Dom Murilo se “comprometeu” a fazer uma campanha de alerta a partir de 2016, próxima à data comemorativa. “É lastimável que um dia tão santo seja realmente envolvido por tanta briga, especialmente de famílias, com sequelas imensas.
Mas eu acho que mais do que fazer uma lei proibindo isso, cabe a nós educar. As leis, por si só, não resolvem todas as situações. É preciso mudar, acima de tudo, os corações”, defendeu. “Com lei ou sem lei, as pessoas vão continuar bebendo e fazendo festas, porque armazenam bebidas. Eu acho que é um problema no nosso país. Poucos países têm tantas leis como o Brasil e, no entanto, a maior parte dos problemas não foi resolvido com isso”, comparou.
O religioso acredita, ainda, que legislações do tipo não fazem sentido em um Estado laico, como o brasileiro. “É um dia santo para nós, mas muita gente pode não ter nada a ver com isso. Um dia, se mostrar que é necessário (poderia ser positivo). Mas não acredito que seja por aí”, concluiu.