A não ser em períodos de anormalidade constitucional como, por exemplo, o da ditadura militar iniciada em 1964, não há notícia de que presidentes da República não tenham se manifestado sobre o primeiro de maio, reverenciando os trabalhadores brasileiros. Refiro-me à Nova República iniciada com a Revolução de 1930, e não à velha que nasceu com o fim do império com à Proclamação da República. Com um viés demagogo, mas querido pelo povo, principalmente pelos trabalhadores, marcou fortemente a data o presidente Getúlio Vargas, embora tendo sido também ditador como seu Estado novo em 1937. Ele costumava iniciar seus discursos com o brado “Trabalhadores do Brasil”, que se tornou marco e símbolo da trajetória getulista. Além de ter criado o salário mínimo, o Partido Trabalhista Brasileiro e inúmeras vantagens para a classe laboriosa.
Já Dilma Rousseff, acuada e perdida nos labirintos do Palácio do Planalto, deixou de se manifestar em rede nacional de rádio e televisão, na última sexta-feira, Dia do Trabalho. Preferiu usar vídeos (para polemizar) e o seu twitter para postar diversas mensagens dirigidas à categoria. Não foi uma forma brilhante de registrar o que pensa, mesmo que o seu PT tenha nascido como Partido dos Trabalhadores e hoje vaga mergulhado nas dificuldades oriundas dos acontecimentos que são por todos conhecidos. A legenda perdeu o luzir da sua estrela e encolhe.
Curiosos é que, no dia anterior à “mensagem” que veio à cabeça de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que agora entendeu de declarar a sua independência e a da Casa que comanda - o Senado - em declaração à imprensa dissera que a presidente não usou a rede nacional de televisão por não ter nada a dizer aos trabalhadores de modo geral. E outras coisas mais. É bem provável que tenha razão. Não somente ela não tem o que dizer, mas, de igual modo, não sabe e não tinha mesmo o que dizer.
Surgiram também rumores de que Rousseff não se manifestou pela rede nacional de rádio e televisão temendo que, enquanto falasse, houvesse um novo panelaço tal como ocorreu nas manifestações de 15 de março. Foi uma das mais memoráveis recusa do povo a uma mandatária da República. Não que outras não tenham ocorrido, mas as manifestações anteriores foram marcadas por vaias (que ela já está acostumada a receber) e não com panelaço, um costume importado da Argentina de recusa a governantes. Não dá para deixar de fazer uma referência, é claro, às faixas com dizeres nos movimentos de rua. Tais repúdios desde a época de Collor passaram a ser feitos com um embasamento de amor e respeito à pátria, com o uso das cores da bandeira nacional.
No Dia dos Trabalhadores tornaram-se costume nestas plagas os discursos presidenciais com o anúncio do aumento do salário mínimo. O país, no entanto, atravessa um período tão crítico que sequer é possível saber, com inflação e tudo, qual será ao aumento do mínimo. O desemprego já desespera famílias. Nem cabe, passo a crer, a Dilma Rousseff decidir sobre o salário e, sim, ao ministro da Fazenda, Joaquim Levi, nova figura mandante da República nestes tempos bicudos. Como num sistema parlamenta às avessas, a política ficou totalmente entregue ao interlocutor político do governo, o vice Michel Temer, com cargos anexos com direito a indicar para nomeação no segundo escalão da administração. Presidente de honra do PMDB e vice-presidente da República, hoje ele está praticamente na condição de “presidente”, na medida em que o cargo principal parece não ter ocupante ou, quem imagina ser não passa de um mero fantasma republicano. Ou zumbi do Planalto Central.
O Dia dos Trabalhadores tem uma história bonita. O enaltecimento do primeiro de maio aconteceu em Chicago, nos Estados Unidos, a partir de uma manifestação organizada por 500 mil trabalhadores. Tão marcante foi que nasceu ali a primeira greve geral nos Estados Unidos. Foi o começo. Daí espraiou-se para diversos países europeus, com acontecimentos marcantes em Portugal. Nos EUA daquela época não havia direitos para os que se dedicavam à labuta. Desta circunstância partiu a revolta, isto no ano de 1886. O capitalismo já era uma marca do país, o que, aliás, juntamente com a liberdade e a democracia, foram levados pelos pioneiros na conquista do território norte-americano. Os primeiros a chegarem levaram para América a Carta Magna. A assinatura do notável documento foi imposta ao rei João, da Inglaterra, no ano de 1215. Teria nascido, neste ato de imposição a um rei, segundo muitos, o processo inicial que deu início aos direitos humanos. A Carta levada pelos pioneiros até hoje é cultuada e se encontra na Filadélfia, como memória do novo país e em homenagem aos primeiros imigrantes que deixaram a Inglaterra para povoar o novo mundo.
E Dilma Rousseff e os trabalhadores brasileiros que ficam sem saber o valor do salário mínimo que terão? Ora, Dilma... Esqueci dela. Transformou-se no “Fantasma do Planalto”, como a rotulou o jornal Inglês The Economist no início desta semana.Fonte:Bahia Noticias