Em meados de 2014, meses após o estouro da Operação Lava Jato, emissários da construtora Odebrecht, a maior da América Latina, procuraram discretamente integrantes do Ministério Público. Com o cerco se fechando contra as empreiteiras e as concorrentes já encrencadas com acusações de corrupção, cartel e lavagem de dinheiro, a empresa apresentou linhas gerais de uma proposta de delação premiada. Com o acordo, poderia blindar o presidente e herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, e assegurar que a companhia pudesse tocar uma carteira de investimentos de 12,8 bilhões de reais.
A temida delação premiada de funcionários da Odebrecht acabou não acontecendo. Marcelo endureceu o discurso e defendia até a semana passada que não havia "nada de ilegal ou imoral" nos generosos empréstimos do BNDES a países que contrataram a empresa para obras no exterior. Na última sexta-feira, porém, 459 dias depois do início da Lava Jato, o empresário recebeu das mãos da própria advogada Dora Cavalcanti, em sua mansão no Morumbi, o mandado de prisão preventiva redigido pelo juiz Sergio Moro. O príncipe dos empreiteiros passaria os próximos dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Neste final de semana, nove dias depois de ter chegado à capital do Paraná, Marcelo Odebrecht ainda aguarda que seus advogados derrubem a prisão preventiva imposta por Moro. Entre os defensores, prevalece a avaliação de que ele não permanecerá preso pelos longos meses impostos a outros empreiteiros, mas ainda assim dão como praticamente certo que o empresário não conseguirá reverter a prisão preventiva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, para onde foi encaminhado na quinta-feira o primeiro pedido de habeas corpus.
Nas palavras de um dos defensores, o desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do caso, "não concede habeas corpus nem para a filha". Uma das possibilidades é pedir em benefício de Marcelo a extensão de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao chefe do clube VIP de empreiteiras, Ricardo Pessoa, ele próprio um dos mais recentes delatores da Lava Jato.
Enquanto aguarda a movimentação dos advogados, Marcelo Odebrecht escreve. Passa o dia sentado redigindo bilhetes, alguns para consumo próprio, outros entregues aos advogados. Na quarta-feira, às 8h26 da manhã, a esposa Isabela chegou para a primeira visita. Estava com Mônica Odebrecht, irmã de Marcelo e advogada da empresa. Para policiais que acompanham o dia a dia do empreiteiro na cadeia, a ficha de Marcelo Odebrecht tinha começado a cair um dia antes.
Três dias depois de chegar à prisão, o executivo recebeu material de limpeza para cuidar da própria cela. A água potável, escassa já àquela altura, foi providenciada às pressas por auxiliares. "Se ele bebesse água da torneira, poderia passar mal e ainda teríamos de levá-lo ao hospital", relatou um agente. Em sacolas de uma loja de café gourmet, auxiliares repassaram ao executivo itens de necessidade mais imediata: kits de barbear, casacos para os 6 graus na madrugada curitibana e toalhas de banho.
Sem uniforme de presidiário, como todos os demais presos preventivamente na Lava Jato, Marcelo Odebrecht passa a maior parte do tempo de agasalho. Tem direito a duas barras de chocolate de 200 gramas por semana. Não há rádio ou televisão e é proibido fumar. Jornais e revistas, trazidos pelos familiares, são partilhados entre os presos. Nas marmitas diárias, a refeição se resume a arroz, feijão, salada e carne ou linguiça.
Entre os policiais, a aposta é que, se as preventivas perdurarem, parte dos executivos deve pedir transferência para o Complexo Médico-Penal em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Embora seja um presídio de fato, as instalações são mais espaçosas. No presídio, os réus da Lava Jato ficam em uma ala reservada, sem contato com os demais detentos.Fonte:Veja