segunda-feira, 22 de junho de 2015
Berg Borges:"Quer adivinhar como será daqui para frente?"
Semivivo estava;lentamente tentava mexer os membros de seu corpo: não conseguia. Seus olhos, voltados para o céu, avistavam a imagem longínqua de meia dúzia de aves negras impertinentes que teimavam em avisar que queriam seu corpo que já padecera horrores devido à queda de uma árvore indócil, numa tarde mais rebelde ainda.
Eram todas aves de rapina? Não não eram. Também não se tratavam dos semideuses, ninguém do Olimpo veio conduzi-lo ao hades.
Sua cabeça, ainda tonta, doía por demais. Em meio à dor vieram imagens que decidira não recordar nunca mais. Elas, imagens teimosas, reportavam os tempos em que achava que tinha todo o controle. Mas não tinha.
Suspiros... Silêncio... Novamente suspiros e os olhos se fecham, desta vez não se foi para sempre. Ainda havia um pouco de vida em seus pulmões. Os olhos abrem-se; uma espécie de tosse vem, seca como pó; não há sangue. Há gemidos.
Quer adivinhar como será daqui para frente: parece pensar, pensar e nada compreender. Fala palavras soltas, desconexas mesmo. Como se fosse outra língua.
Repentinamente escurecem-lhe as vistas. Tudo negro, pois, negra é a tarde, negra é a vida.
Por que demorar tanto para o fim inexorável?
Tristezas, dor; dor novamente; solidão e o fim. Final da vida de Vicente o meu papagaio de estimação.
Que a terra lhe seja leve!
(contos de um florista; por Bergborges)Face.