Quando um governo perde a iniciativa e a credibilidade, ficamos entregues à casa do capeta. Aí, tudo é possível. Enquanto Dilma fazia ontem a poesia da mandioca e refletia sobre como a bola nos tornou “homo sapiens” e “mulher sapiens”, uma nova derrota do governo se desenhava na Câmara, confirmada nesta quarta. Há muita gente achando que vai ser bom para os aposentados. Mas certamente será ruim para o país. Há como conciliar as duas coisas? Acho que não. Todos pagarão o pato — inclusive os… aposentados.
A que me refiro? Por 206 votos a 179 votos, a Câmara estendeu a todos os aposentados a regra de reajuste do salário mínimo: majoração com base na inflação acumulada nos doze meses anteriores (INPC) mais o índice de crescimento da economia de dois anos antes. Isso ainda precisa passar pelo Senado, onde a maioria da base petista é… lulista. Se aprovado, o impacto estimado pelo governo nos cofres públicos é de R$ 9,2 bilhões ao ano.
Nelson Barbosa, do Planejamento, foi ao Congresso explicar as consequências negativas da aprovação… Outros ministros também. Debalde! Dilma fala, e quase ninguém dá bola. A oposição, claro!, votou em peso em favor da extensão do benefício a todos os aposentados. Mas também houve defecções na base governista, inclusive entre petistas.
José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, que faz um trabalho que chega a ser patético, pediu que a proposta fosse rejeitada, já que o governo, prometeu, em breve apresentará uma alternativa. Em breve? Por que já não a tem pronta? Este é um governo que está sempre vencido pelos fatos.
A votação permite todo tipo de conversa mole e demagogia. Um grita que, neste país, só banqueiro ganha dinheiro, enquanto se quer arrancar o sangue de aposentado. Outro manda estancar a roubalheira da Petrobras em vez de punir os velhinhos, como se uma coisa tivesse a ver com a outra.
Sim, existe uma crise econômica óbvia, decorrente do acúmulo de bobagens. Mas parece evidente que a crise é mesmo política. Há uma sensação de que não há governo. A nefelibata da mandioca não convence mais ninguém. Por mais que Michel Temer, o vice, tente fazer a coordenação política, o Brasil segue sendo um país presidencialista, não é? Não se compensa o vácuo.
A coisa assume tal dimensão que parece bastar o governo dizer que é contra alguma coisa para que o Congresso aprove. Eu sempre rejeitei aquela cascata que as esquerdas viviam apregoando: a tal “vontade política”. Até a matemática podia ser fraudada com vontade política… Não! Não acho que falte vontade política ao governo Dilma. Falta é competência mesmo.
Convenham: se José Guimarães é o líder do governo na Câmara, então quem lidera? O mais pessimista avança: “Se Dilma é a presidente, então quem preside?”
Por Reinaldo Azevedo