O professor da Universidade de São Paulo (USP) e historiador Lincoln Secco é autor do livro "História do PT" e afirmou em entrevista ao El País que o partido que governa o país há pouco mais de 12 anos é mais burocrático e menos militante. Inclusive, Secco afirma que a maior falha dos petistas foi desenvolver a estratégia lulista: a conciliação permanente.
“Ela foi útil para eleger Lula em 2002, mas ao contrário do que a direção petista acreditou, a reeleição de Lula se deu num ambiente de polarização social e política e a de Dilma Rousseff também. Lula fez um governo mais à esquerda depois da crise de 2005.
No entanto, o lulismo adotou a tática de ser pragmático enquanto a oposição se tornou radical e ideológica. O outro erro foi a corrupção.
Apesar da corrupção ser um ente do jogo político estabelecido e de eu achar injusto condenar o José Dirceu sem provas, ou só julgar empresários que doam ao PT e não a outros partidos, considero que foi um erro não ter sido radical numa reforma política que diminuísse a influência do poder econômico nas eleições.
Hoje, isso é impossível”, declarou Secco, que também é filiado ao PT. De acordo com o professor, a sigla difere das demais existentes no Brasil, apesar de ter se afastado de suas bases históricas, como sindicatos e igrejas.
“Você imaginaria alguém se preocupando com o congresso do PMDB? Ali não há tendências ideológicas, só conflitos de lideranças. O mesmo vale para o PSDB. O PT hoje é um partido que possui um jogo de lideranças ao lado da velha disputa de tendências ideológicas. Ele continua inovador: tem 50% de mulheres na direção e proibiu a reeleição por mais de duas vezes dos deputados”, declarou.
Além disso, de acordo com ele, a liderança de Dilma dentro do partido é prejudicada pelo fato de ela não ser uma “petista histórica”, pois os principais líderes da sigla foram derrubados pelos escândalos do Mensalão, em 2005. Secco ainda afirmou ser difícil cravar uma candidatura de Lula em 2018.
“Se ele estiver bem, será o candidato. Caso contrário vai apoiar outro nome. O PT tem ministros, governadores e até o prefeito de SP. Se ele for reeleito em 2016 se torna uma alternativa. Os que dizem que o PT será derrotado em 2018 tem só um wishful thinking (desejo). É até provável uma derrota petista, mas a oposição teria que ter um programa alternativo. E não tem”, finalizou.