domingo, 19 de julho de 2015
Berg Borges:"Nossa sociedade vive em estado de alarde, sensacionalismo, ajudado por muitos difusores da desgraça alheia"
Vamos falar um pouco mais sobre coisas que inquietam-me (nos?). Falarei de pessoas. Não quaisquer pessoas, mas daquelas que são constantemente relegadas por estarem na condição de necessitadas de ajuda: Os dependentes químicos, popularmente alcunhados de noia, bicho, drogado, entre outros termos depreciativos de quem realmente pensa que as tragédias só acontecem com os outros.
Nossa sociedade vive em estado de alarde, sensacionalismo, ajudado por muitos difusores da desgraça alheia ;escondidos nas cortinas do desamor pregam a impiedade, alardeando aos quatro cantos que o ser que dominado pelos efeitos da dependência química é tido um não-ser ( se é que podemos conceber um não-ser).
Que dramas vivem os aprisionados em sua própria condição de dominados pela vontade incontrolável de saciar o desejo pela droga e, ao mesmo tempo, pressionados pela razão ou pelo instinto na busca da chamada libertação das amarras que teimam em impedi-los de viverem dignamente?
Dramas, tragédias, dores, desespero, raiva, ódio, revolta, lágrimas todas estas palavras se concretizam no mundo do dependente.
Quem quer um mundo desses para si? Acreditamos que ninguém ficaria confortável em num ambiente penoso cujas bases de convivência fossem construídas a partir de situações que potencializassem tanta dor e sofrimento.
Temos feito muito pouco no sentido de reconhecer que as pessoas são antes de qualquer coisa gente, não são gado. Gado a gente marca, tange, engorda e mata. Mas com gente é diferente.
Gente! Somos todos gente. Defeituosa gente. Aprendentes das coisas da vida, todas elas. Incontáveis por sinal.
Mas difícil é a razão aceitar que o olhar é para o ser humano, não importando-nos as miudezas, características pertinentes ao ser vivo.
As vicissitudes podem chegar a qualquer um. Hoje estamos plenos, donos de nossa condição de seres autônomos; amanhã poderá ser diferente. Pode ocorrer que o que jamais passaria por sua cabeça, a loucura por exemplo, se concretize trazendo-lhe, de fato, novas realidades, alterando todo um sentido dado anteriormente à vida.
Que temos feito para melhorarmos o trato com o outro que agora se faz necessitado que o reconheçamos como gente, gente ferida no corpo, na alma e no coração?
Fica a qui o convite à reflexão para as situações que estão nos deixando tratar as pessoas como gado e fazendo nos esquecer de que somos todos iguais na essência.
Fé e paz. Por: Bergborges.