O número de empresas brasileiras inadimplentes cresceu 11% em junho deste ano ante o mesmo mês do ano passado. Segundo levantamento feito pela consultoria Serasa Experian, obtido com exclusividade pelo site de VEJA, já são mais de 3,9 milhões de empresas endividadas - em junho de 2014, eram 3,5 milhões. Ao todo, o Brasil tem 7,9 milhões de empresas em funcionamento - portanto, quase metade (49%) está em situação de calote com ao menos um credor.
Especialistas apontam que o fenômeno é preocupante, sobretudo, porque o país passa por um período de desaceleração na atividade econômica e por um ciclo de aperto monetário. "A recessão econômica somada à taxa de juros é uma combinação fatal para as empresas", diz o economista do Serasa Experian, Luiz Rabi. Segundo ele, enquanto o ambiente recessivo impacta na queda da receita das empresas, os juros elevados ampliam as despesas. E, assim, elas caminham para a insolvência.
Com problemas para levantar caixa, as companhias tentam adiar o pagamentos de débitos. Se não conseguem postergar por muito tempo, tornam-se inadimplentes. Em casos extremos, decretam a falência e fecham as portas. Segundo Serasa Experian, os requerimentos de recuperação judicial bateram o recorde nos sete primeiros meses deste ano, com 627 ocorrências. o maior número desde 2006, quando entrou em vigor a nova Lei de Falências.
O estudo também traçou o perfil das empresas negativadas. A maioria pertence ao setor de comércio (44,1%), localiza-se na Região Sudeste (51,3%), atrasa o pagamento em cerca de 1 a 2 anos (20,6%), e tem pouco tempo de funcionamento. As mais jovens são as mais propensas a não conseguir cumprir os seus compromissos. Cerca de 40% das inadimplentes têm de 2 a 5 anos de operação. Depois, aparecem as com 6 a 10 anos de vida (21,8%), e de 10 a 15 anos (13%). "Isso mostra que empresas no Brasil ficam inadimplentes muito rapidamente. As mais recentes são mais suscetíveis", diz Rabi.
A principal consequência do aumento da inadimplência no meio corporativo é o encarecimento do crédito. "Quem fica inadimplente, não paga o credor, e normalmente esse credor é bancário. E esse custo é repassado para o sistema financeiro nas operações de crédito", afirma o economista. Mais criteriosos, os bancos, então, passam a restringir os empréstimos às grandes empresas. Segundo o Serasa, a participação de pequenas e médias companhias na carteira de crédito dos quatro maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Caixa) foi de 34% no primeiro trimestre de 2015 - em 2011, esse mesmo indicador estava em 44%. "O problema é que 90% das empresas do Brasil são médias ou pequenas", constata.
Segundo o economista, esse fenômeno só retroalimenta o ciclo de recessão econômica - com a alta da inadimplência, os juros sobem, encarecendo o crédito e agravando a desaceleração, que, por sua vez, aumenta a inadimplência, e por aí vai a roda. "Isso precisa ser quebrado por algum fator exógeno, como a melhora no cenário inflacionário. É por isso que ainda não está claro quando o horizonte de recessão no Brasil vai terminar", conclui Rabin.Fonte:Veja