O jornalismo escrito na Bahia está com linguagem repleta de vícios ou termos que só fazem enfeitar, firular, encher linguiça e não acrescentam nada de substancial. A imprensa falada, então, é pior ainda. Há exceções.
Os 'releases' das assessorias de imprensa e das empresas de comunicação que prestam serviços nessa área estão repletos de textos com esses vícios.
Em muitos casos, acrescente-se a esse fato, as adjetivações que colocam nos textos sempre elogiando ou enaltecendo seus clientes e produtos, como se fossem verdades absolutas, quando servem apenas para distorcer realidades.
Diga-se, ainda, que parte da imprensa escrita baiana perdeu a noção do que seja um 'lead', a síntese da matéria com sua cabeça e o mais importante do texto, muitas vezes, está no corpo da matéria, nos parágrafos mais abaixo.
Ainda não se descobriu no meu modo de entender nada mais objetivo do que o modelo clássico do 'lead' (a cabeça, o essencial do assunto, o destaque que, às vezes, dispensa até a leitura de todo o texto para ser informado do que se passa no âmago da noticia) e o 'sub-lead' (uma parte complementar, o recheio essencial).
Quando Quintino de Carvalho organizou a 'Escolinha da Tribuna da Bahia', idos de 1969, introduziu um terceiro parágrafo até chegar ao primeiro intertítulo da matéria. Foi uma inovação, uma bossa, que não acrescentava muita coisa (a Folha usa muito esse modelo), mas, que servia para exercitar a cabeça dos jornalistas 'focas' (iniciantes). A TB manteve esse modelo por muitos anos.
VEJA OS 10 PRINCIPAIS VICIOS DE LINGUAGEM
1. A autoridade tal 'fez questão de cumprimentar' o morador que foi benecifiado com o programa y após a entrega de uma praça 'totalmente recuperada'. Ora, o mais simples e correto é dizer que a autoridade tal cumprimentou o morador após a entrega da praça reformada. 'Fazer questão de cumprimentar' é forçar uma situação valorizando desnecessariamente o gesto da autoridade, que deve ser normal, educado. Ademais, a praça totalmente reformada é outra expressão sem sentido, apenas valorativa de um gesto administrativo, uma vez que a autoridade não iria entregar uma praça 'parcialmente' recuperada. A praça, portanto, foi recuperada. Isso é o mesmo que se dizer 'bom dia a todos' como se existisse 'bom dia a poucos'.
2. A autoridade tal recebeu a delegação de professores para celebrar um convênio. 'Na oportunidade/ou na ocasião' afirmou que cumpria seu papel de gestor. Os termos 'na oportunidade', e 'na ocasião' são desnecessários. Em todos esses casos podem retirá-los que não fazem a menor diferença.
3. O vereador tal 'comemorou' a inauguração da escola no bairro y; a autoridade x comemorou a assinatura do convênio z. Essa é uma expressão muito usada para qualquer ato formal, às vezes, corriqueiro, como são os casos da assinatura de um convênio, a reforma de uma escola e assim por diante. Comemorar significa homenagear, celebrar, festejar... portanto, muito forte para ser usado em qualquer ocasião. E também passa a idéia de que a autoridade tomou uma taça de champagne ou coisa parecida.
4. A Secretaria tal inicou o 'processo seletivo do concurso Reda' no Colégio tal, dia y; está em 'processo de andamento' a execução do programa H. Usa-se a expressão 'processo seletivo' para uma porção de coisas sem o menor sentido, só para encher a linguiça, pois, em todos os casos é só dizer que a Secretaria Y iniciou o concurso Reda; ou está em andamento o programa H.
5. A Prefeitura tal informa que a obra de recuperação da Praça Z "está a todo vapor" e será concluída no próximo mês; A autoridade tal destaca que apesar de atrasos na obra H os trabalhos "reiniciaram a todo vapor". Essa é a típica expressão embromatória. A 'todo vapor' significa a 'toda velocidade' e expressa uma antiga imagem de uma máquina a vapor, que fazia muita zoada e era eficiente em sua época. Hoje, a expressão está completamente em desuso com as novas tecnologias.
6. O político Z ao comentar as declarações do secretário M "disparou": - É um enganador; o politico H ao falar sobre a atitude do secretário N "alfinetou". São vicios apenas para dar uma suposta força na resposta ou na crítica que só deve ser usada em casos especiais e não a qualquer momento como se vê.
7. Faz parte do embromatório geral as chamadas "metas estratégicas", "planos estratégicos", "ações estratégicas" ou reforço de expressões como "para se ter uma idéia da força politica de fulano" que não servem para nada. Não conheço um 'estudo estratégico' um 'plano estratégio', um 'planejamento estratégico' que tenha dado resultados objetivos.
8. A Prefeitura tal ou o órgão tal "intensificou as ações" de combate a dengue; a Secretaria tal "intensificou a limpeza" de área Y que está muito degradada. É outro embromatório. Quando vê-se num texto essa palavra "intensificou" é só para enrolar a população.
9. É comum também nos textos das assessorias expressões em destaque na caixa alta: O secretário defendeu uma 'PUNIÇÃO EXEMPLAR' ao infrator; o sindicato tal diz que a greve dos servidores é 'POLITICA E INCONSEQUENTE'. As assessorias não precisam colocar textos em caixa alta porque os editores sabem distinuir o que é relevante ou não. Isso só irrita os editores. São expressões que ninguém leva a sério. Existe aquela já célebre de que, vamos apurar, vamos fazer uma 'INVESTIGAÇÃO RIGOROSA'.
10. Outras citações comuns: O presidente da Associação XY ofereceu aos convidados um "delicioso breakfast"; a autoridade tal apresentou o plano "após exaustivos estudos e pesquisas"; "As fortes chuvas não impediram que a solenidade da Prefeitura y fosse prestigiada pelo grande público"; a "sábia mãe de santo fulana de tal"; "o premiado ator"; "A cantora tal que estourou nacionalmente"; "o artista tal de projeção internacional". E por aí vai, cada qual querendo valorizar seu 'produto' fazendo com que os editores, mais atentos, tenham que cortar essas adjetivações.Fonte:Bahiajá