Serrinha está de luto oficial por três dias com o falecimento do aboiador Manoel Thomaz de Aquino, mais conhecido por "Manoelzinho Aboiador", 78 anos.
Compositor de trovas, vaqueiro, animador de vaquejadas, repentista e pessoa muito querida na cidade, Manoelzinho era pernambucano do povoado de Salgado, Caruaru, e chegou a Serrinha em 1967, nos primórdios da Vaquejada época de Valdete Carneiro e Ernesto Ferreira, os pioneiros. Veio a convite destes para aboiar.
Naquele tempo, a Vaquejada de Serrinha tinha conotações de festa dos vaqueiros, da roça, de aproximação do povo do campo com o povo da cidade e o aboio, a trova, o repente, valia muito como peças da cultura popular.
Manoelzinho foi um achado: aboiava como nenhum outro vaqueiro, era chamado de Uirapurú (pássaro cantante) e chegou a gravar cinco LPs pela Condil com cânticos de Vaquejada.
Era uma persnogem popular, simples, eterno vaqueiro, andante, vivia na Serra desta profissão reconhecido dentro dos limites daqueles que organizaram e organizam as festas de vaquejada. Nunca o vi sem o traje de vaqueiro: roupa simples, chapéu e botas. Tive dedos de prosa com ele várias vezes em minhas visitas a Serra.
Correu o sertão da Bahia e o Nordeste brasileiro aboiando. Para muitos, era considerado o maior aboiador do Brasil no seu gênero.
Pobre, eternamente pobre, em algum momento de sua vida profissional trabalhou na Prefeitura no setor de apreensão de animais - bois, vacas e cavalos - que pastavam pelas ruas.
Era uma figura carimbada em todos os eventos que diziam respeito a vaquejada, vaqueiros, encontros dessa natureza. Em qualquer desses eventos dizia-se: - Chama o Manoelzinho. O diminutivo calhava bem, pois, era baixinho, gordinho.
Com o passar dos anos e a modificação da Vaquejada de Serrinha para um evento de músicas axé e sertaneja, agora também pagodeira, a figura dos aboiadores praticamente desapareceu na festa, salvo em algunas rodas de vaqueiros e dos aficionados na derrubada do boi.
Os tempos são outros, a Vaquejada mudou de viés, se adequou aos novos ritmos, o aboiador desapareceu.
Assim também desaparece Manoelzinho Aboiador no leito do Hospital Muncipal de Serrinha, praticamente desamparado, pobre como sempre foi, honrado e deixando saudades com seu aboio.
Deixa saudades para quem o viu cantar. O Iurapurú partiu.
Ê Ê Ê boi saudade...
Fonte:Bahia Já(Texto-Tarso Franco)