Não houve nenhuma novidade na acareação entre o doleiro Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Tudo o que disseram na CPI nesta terça já era conhecido e repetiu o conteúdo das respectivas delações premiadas, com uma única e especiosa novidade sobre Antônio Palocci. Já chego lá. O doleiro, note-se, reafirmou a convicção de que a presidente Dilma sabia de tudo porque, segundo ele, muitas vezes o então diretor dizia que precisava consultar o Planalto sobre como operar a distribuição do dinheiro. Costa, no entanto, asseverou jamais ter tratado do assunto com a agora presidente ou com seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Quanto a Palocci, vamos ver. O ex-diretor manteve a versão de que Youssef lhe apresentara o pleito para transferir R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de Dilma em 2010. O solicitante seria o ex-ministro. O doleiro insistiu que a iniciativa não partiu dele. Bem, já aqui há algo de inequivocamente estranho, não? Ou um dos dois está confuso ou está mentindo — e ambos beneficiados pela delação premiada.
Mas o mais esquisito ainda estava por vir. Afirmou Youssef: “Tem um outro réu colaborador que está falando. Eu não fiz esse repasse [para Palocci]. Assim que essa colaboração for noticiada, vocês vão saber realmente quem foi que pediu o recurso e quem foi que repassou”.
Huuummm… Aí as coisas se complicam bem para quem se atém à legalidade. Embora seus advogados fiquem bravos, é evidente que Youssef é um bandido, como Costa. Atenho-me à primeira acepção do Dicionário Houaiss: bandido é “o indivíduo que pratica atividades criminosas”. Logo, não há nenhuma dúvida a respeito.
Muito bem! Mesmo na cadeia, o que a gente nota é que Youssef exibe um domínio da operação que, até onde sei, só os procuradores e os policiais federais deveriam ter. Palocci que se vire. Dada a forma como atua o PT, eu tenho mais motivos para acreditar que o ex-ministro pegou o dinheiro para a campanha do que o contrário. Ele era um dos que Dilma apelidou em 2010 de seus “Três Porquinhos”. Os outros dois eram José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça. Isso explica muita coisa.
A minha questão aí não é Palocci. O que me preocupa é o fato de um criminoso demonstrar que sabe o que vai pelos bastidores da operação e quem vai denunciar quem — ou, sei lá, já denunciou. Mais de uma vez, chamei a atenção para heterodoxias dessa operação. Se os meus coleguinhas da imprensa querem fingir que é normal um delator preso ter conhecimento do conteúdo ainda sigiloso de outras delações, não posso aqui fazer o mesmo papel.
Já destaquei aqui outro aspecto incômodo: os advogados que cuidam de mais de um delator premiado — Beatriz Catta Preta, sumida do noticiário, tinha uma penca: nove! A minha dúvida, que é uma certeza porque a resposta é evidente, é se esses advogados levam a juízo a verdade — e só ela pode ser premiada — ou uma versão concertada, arranjada, já que não faria sentido o doutor botar seus clientes numa fria, com versões contraditórias entre eles.
Em momentos assim, sempre fico pensando em que medida, todos nós, apesar das barbaridades que vieram à luz — e o esquema inédito de roubalheira está mais do que demonstrado —, não podemos estar, ainda assim, sendo administrados por bandidos.
Uma coisa é inegável: Youssef demonstrou ter um domínio da Operação Lava-Jato que os deputados da CPI, que investigam os mesmos crimes, não têm. E é claro que isso não faz sentido. Não numa democracia. Afinal, delações sigilosas não são compartilhadas com os parlamentares, mas o são com bandidos?
Há algo de errado aí.
Por Reinaldo Azevedo(Veja)