Na reta final dos trabalhos e sem ter conseguido avançar efetivamente nas investigações da Lava Jato, a CPI da Petrobras virou nesta quarta-feira palco de discussões sobre a blindagem que o colegiado fez ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a delatores. Mesmo com a possibilidade de apresentar na próxima semana um relatório final que pouco avança nos fatos já conhecidos sobre o petrolão, a ampla maioria dos integrantes da CPI é contra a prorrogação dos trabalhos.
Se não houver prorrogação dos trabalhos - e o cenário entre os deputados indica que não haverá - o depoimento do presidente da estatal, Aldemir Bendine, hoje, será o último a ser colhido pela comissão de inquérito. Antes de o executivo começar a expor dados sobre o rombo na petroleira e as dificuldades de auditar contas navalhadas por uma corrupção sistêmica,
o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) defendeu abertamente a prorrogação dos trabalhos e a convocação de Eduardo Cunha para prestar um novo depoimento. Quando compareceu ao colegiado, em março, Cunha negou, por exemplo, ter contas bancárias da Suíça e afirmou à época que o lobista Fernando Baiano não atuava em nome do PMDB na estatal. Desde então, as acusações contra o peemedebista não param de crescer e atualmente o parlamentar tem de negociar com o governo uma estratégia para não perder o mandato.
"Não conseguimos ouvir aqui nenhum parlamentar envolvido convocado. Não conseguimos votar nem a convocação de um parlamentar", cobrou Valente. Mesmo com a Polícia Federal tendo deflagrado a Operação Politeia, braço da Lava Jato focado em deputados e senadores, nenhum congressista foi chamado a prestar esclarecimentos. "A Câmara tem obrigação de cortar na própria carne. O processo de investigação está em andamento e estamos fechando a CPI", disse ele, que desde março tenta levar ao colegiado todos os políticos alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de envolvimento com o petrolão.
A ofensiva do deputado contra Eduardo Cunha levou a campo a tropa de choque do peemedebista, que cobrou "presunção de inocência" ao político. "O presidente não é protagonista desse processo. Somos tupiniquim aqui? Só porque a Suíça falou parou o Brasil? É a síndrome de colonização? Se a Suíça quiser procurar dinheiro em conta, 2 milhões de dólares é troco", esbravejou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
O tucano João Gualberto (PSDB-BA), por sua vez, acusou o PSOL de atuar como "partido auxiliar do PT" e disse que "os pais do petrolão são Lula e Dilma". As acusações contra o PSOL motivaram protestos de Ivan Valente, mas o deputado baiano continuou: "O PT sabe que os pais do petrolão são Lula e Dilma e sempre pega no pé do senhor Eduardo Cunha. Sei as acusações são graves, mas só fala de Eduardo Cunha. Por que não fala do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, que são o problema?".
O petista Jorge Solla (PT-BA), por sua vez, voltou à carga de discussões contra Eduardo Cunha e ironizou o fato de o juiz Sergio Moro não ter mandado prender a mulher do presidente da Câmara, Claudia Cruz, que, segundo o Ministério Público, utilizou dinheiro das contas secretas da Suíça para pagar aulas de tênis nos Estados Unidos. "É uma desfaçatez se falar como se Dilma e Lula pudessem ser culpados e ao mesmo tempo alegar presunção de inocência de quem contas bancárias na Suíça. Não acharam dinheiro nas contas de Lula e Dilma", afirmou.Fonte:Veja