A presidente Dilma Rousseff acredita que venceu nesta terça-feira a mais importante batalha contra o impeachment até agora, depois que o Supremo Tribunal Federal suspendeu o rito de tramitação do processo traçado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Apesar disso, o governo tenta manter as "portas abertas" com o deputado - e o peemedebista deu sinais, após a derrota, de que pode aceitar a trégua com o Palácio do Planalto, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Ao ser questionado por líderes da base aliada, na tarde de terça, como será possível reconstruir um ambiente de estabilidade na Câmara, Cunha disse que admite conversar com o governo.
Dilma estava na reunião de coordenação política com onze ministros quando soube das duas, das duas primeiras liminares do Supremo. De acordo com relatos de participantes do encontro, ela comemorou a decisão. "Vencemos o golpismo. Agora, temos muito trabalho pela frente", disse a presidente, no Planalto. "Foi um momento de Copa do Mundo, esquecendo o 7 a 1 para a Alemanha", comparou um de seus auxiliares.
Preocupado o agravamento da crise, o titular da Casa Civil, Jaques Wagner, reuniu-se na noite de segunda-feira com Cunha, na Base Aérea de Brasília. Em menos de uma semana, os dois se encontraram duas vezes e conversaram outras três por telefone. Sob a acusação de manter contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro desviado da Petrobras, Cunha tem certeza de que o governo - com quem rompeu relações em julho - está por trás de seu calvário. Wagner disse a ele que o Planalto não tinha influência nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, nem no Ministério Público ou no Supremo e insistiu no diálogo. Afirmou, ainda, que as portas estavam "abertas".
Por volta de 16 horas desta terça, os líderes José Guimarães (do governo na Câmara), Leonardo Picciani (da bancada do PMDB) e Rogério Rosso (do PSD) tiveram uma conversa reservada com Cunha. Embora 32 dos 62 deputados do PT tenham assinado requerimento encabeçado pelo PSOL e pela Rede Sustentabilidade, pedindo a cassação do seu mandato no Conselho de Ética, o peemedebista admitiu uma aproximação com o governo.
Na avaliação do Planalto, Cunha está agora com as mãos atadas por causa das denúncias, mas, mesmo fragilizado, ainda pode causar muito estrago. Um ministro disse que o governo não tem como segurar a difícil situação do peemedebista, mas, ao mesmo tempo, "também não pode dinamitar as pontes com o presidente da Câmara". Como mostrou reportagem de VEJA desta semana, além de Wagner, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Michel Temer e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, também estiveram com Cunha, recentemente, para tentar um acordo com ele.
"Nós queremos dialogar com a base e com a oposição. O que nós queremos é criar um ambiente de paz política, de estabilidade, para que divergências não paralisem o país", afirmou Edinho. "O impeachment é uma questão jurídica. O Brasil não pode resolver suas questões políticas com ruptura institucional."
O governo avalia que, após a derrubada do "manual do impeachment" - como era chamado no Planalto o rito de tramitação sugerido por Cunha -, ficou muito complicado para a oposição encontrar argumentos para embasar pedidos de afastamento de Dilma. O PSDB anunciou que vai apresentar novo requerimento, incluindo as manobras contábeis do Executivo neste ano, conhecidas como "pedaladas fiscais". Se Cunha aceitar esse novo pedido, no entanto, o governo recorrerá novamente ao Supremo.
(Com Estadão Conteúdo)