A explosão da microcefalia no Brasil continua e o número de bebês que nascem com a deficiência não para de aumentar. Em uma semana, a doença se alastrou de forma considerável: de 2.401 para 2.782 casos. No mesmo período de sete dias, as notificações se espalharam para 69 municípios que ainda não haviam registrado casos.
Investiga-se a relação entre casos de microcefalia (má-formação cerebral que pode trazer limitações graves ao desenvolvimento da criança) e o vírus zika (transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a febre chikungunya). O total de casos notificados representa a maior incidência no país pelo menos nos últimos cinco anos, período em que há divulgação oficial de dados da doença.
Veja a seguir alguns destaques dos dados divulgados nesta terça-feira (22) pelo Ministério da Saúde:
Só em 2015, já são 2.782 os casos de microcefalia
Para efeito de comparação, veja a quantidade de casos notificados ano a ano:
2015 - 2.782 (dados contabilizados até 19 de dezembro)
2014 - 147
2013 - 167
2012 - 175
2011 - 139
2010 - 153
Os casos se distribuem em 618 municípios de 20 unidades da Federação.
Das 27 unidades federativas do Brasil, até agora, só não há casos de microcefalia em Acre, Amapá, Amazonas, Paraná, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. A maioria dos casos se concentra em Pernambuco (1.031), Paraíba (429), Bahia (271), Rio Grande do Norte (154), Sergipe (136) e Ceará (127).
40 crianças morreram com microcefalia desde o início da notificação dos casos, em novembro passado
O tipo e o nível de gravidade da sequela causada pela microcefalia vão variar caso a caso. Tratamentos de reabilitação realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança, mas em alguns casos o portador da doença pode morrer com poucos dias ou meses de vida.
Nem todos os casos de microcefalia podem ter relação com o vírus zika. Esta relação foi descoberta este ano, após o aumento da incidência da doença e o posterior surgimento de casos de microcefalia em regiões com surto de zika. Pernambuco registrou um surto de casos de microcefalia no segundo semestre de 2015. Autoridades sanitárias identificaram então que muitos casos ocorriam em filhos de pacientes que haviam contraído o vírus zika no início da gravidez. Além dos casos em que a relação entre zika e microcefalia foi confirmada, houve também 102 casos em que esta relação foi descartada. Até 19 de dezembro passado, ainda estavam em investigação 2.165 casos. No balanço atualizado o governo não especificou os casos confirmados e descartados.
O que é microcefalia
Um bebê nasce com microcefalia quando o tamanho de sua cabeça é igual ou menor a 32 centímetros. O tamanho padrão do crânio do bebê fica em torno de 34 a 37 centímetros.
O grande aumento dos casos de microcefalia acontece ao mesmo tempo em que o país vive um surto de casos de zika, vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a febre chikungunya.
A relação do vírus com a microcefalia já foi confirmada após a morte de um bebê cearense cuja mãe foi infectada durante a gravidez.
A investigação dos casos de microcefalia relacionados ao zika está sendo feita em conjunto com gestores de Saúde de Estados e municípios.
Zika: só doar sangue após 30 dias
Dias depois de ter informado que a transmissão do vírus zika pode ocorrer por transfusão de sangue, o Ministério da Saúde pediu hoje a população para não deixar de doar, pois no fim de ano a demanda por sangue aumenta em todo o país.
A exceção fica por conta de quem contraiu a zika. Neste caso, deve-se esperar pelo menos 30 dias para fazer a doação e afirmar que teve o vírus no local de doação. Outra recomendação é informar ao banco de sangue se teve febre e dores no corpo dias depois da doação.
O diretor do departamento de vigilância de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, afirmou que o ministério reforçou essas orientações aos hemocentros e que a população pode doar com tranquilidade.
"As medidas visam à ampliação da segurança na doação e a qualidade da informação para a busca ativa de dados clínicos sobre o receptor", afirmou.
Mais testes e agentes nos Estados
Atualmente, a circulação do zika é confirmada por meio de teste PCR, com a tecnologia de biologia molecular. Segundo Maierovitch, o Ministério da Saúde capacitou 11 laboratórios públicos para realizar o diagnóstico de zika. Com as cinco unidades de referência no Brasil para esse tipo de exame, 16 centros passam a ser capacitados para fazer o teste em todo o país.
Nos próximos dois meses, a tecnologia deve ser transferida para mais 11 laboratórios, somando 27 unidades para analisar 400 amostras por mês, informou o Ministério da Saúde.
Para combater a proliferação do mosquito, equipes técnicas de investigação de campo do ministério da Saúde estão trabalhando nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Ceará.
O objetivo do governo é conseguir visitar 100% das residências brasileiras até 31 de janeiro para combater focos do mosquito Aedes aegypti. Para isso, as ações de combate ao mosquito e cuidado com os criadouros ganham reforço de mais de 266 mil agentes comunitários de saúde espalhados pelo país.
"Estamos estabelecendo média de 20 visitas ao dia por agente de saúde e endemias", declarou Antônio Carlos Nardi, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Combate ao mosquito
Com as festas de fim de ano, o governo recomenda também que a população tome mais cuidado no descarte de garrafas e copos plásticos, para evitar que os objetos se tornem locais de acúmulo de ovos do Aedes aegypti.
"Antes de fechar seus imóveis, verifiquem a vedação da caixa d'água, desentupam as calhas já que está prevista uma grande quantidade de chuva no sul e sudeste, e confiram o tanque de lavar louça e ralos para que a água seja escoada", afirmou Nardi