Renan Santos, um dos diretores do Movimento Brasil Livre, escreveu na página do grupo no Facebook um duro texto, criticando a cobertura que a imprensa faz dos dias em curso.
Posso não concordar, e não concordo, com todos os termos, afirmações e, sim, acusações que há nele, mas há lá elementos que merecem reflexão.
Sim, as esquerdas reclamam muito da imprensa, como sabemos. E querem controlá-la. O MBL, como fica claro no artigo, está convidando ao debate e não quer controlar ninguém.
Que tipo de imprensa liga para um dos movimentos que lideraram as três maiores manifestações da história do país em favor do impeachment só para perguntar quantos Pixulecos foram vendidos?
Vocês sabiam , por exemplo,que o MBL realizou o seu Primeiro Congresso Nacional, com mais de 300 participantes, oriundos de todo o Brasil? Sabiam porque leram aqui e, eventualmente, nas páginas do próprio movimento. Estive lá. Vi um trabalho de organização e método que não existe em nenhum partido — exceção feita, talvez, ao PT, com outro propósito, como se sabe.
Destaco alguns trechos do texto de Santos, intitulado “Jornalismo militante e a multidão invisível”.
Imagine o seguinte cenário: Aécio Neves, acusado de ter “pedalado” dezenas de bilhões de reais do Orçamento público em fraudes fiscais causadas pelo seu descontrole financeiro — somado a terríveis denúncias relativas ao tráfico de influência de FHC junto a empreiteiras e bancos de investimento — tem seu mandato posto à prova diante de um pedido de impeachment protocolado na Câmara dos Deputados por juristas de renome, com amplo apoio popular.
Pressionado pelas maiores manifestações populares da história do país, não existe saída para o mineiro. Ele assiste com temor a chegada do dia 13 de dezembro, data em que o Movimento Passe Livre convoca mais uma rodada de manifestações ao redor do país.
Como seria a cobertura dos jornais neste caso? Quantas vezes as lideranças da UNE, do “Juntos!” e do Passe Livre teriam ido à GloboNews? Quantas inserções ao vivo no Jornal Nacional mereceriam? Como iria se comportar Jô Soares sobre o caso? Seriam eles vítimas de acusações espúrias, como a de que recebem dinheiro de grandes fundações americanas como a Ford e a Open Society?
Como seria a cobertura dos dias que “antecedem essa grande festa da democracia”? Estaria Ana Maria Braga ansiosa? E Elio Gaspari? Faria ele comparações heroicas com a resistência democrática durante os anos de chumbo? Caetano vestir-se-ia de manifestante? Chico escreveria uns versinhos? Teríamos especiais da Folha de S. Paulo, com infográficos maneiros e entrevistas sobre a visão de mundo desses jovens iconoclastas?
A resposta todos sabem. O ano de 2015, além de ser marcado pelo surgimento de uma oposição civil difusa e organizada, livre das amarras de velhas instituições ultrapassadas, como UNE, OAB e CUT, será lembrado também pela derrocada moral da imprensa brasileira.Fonte:Reinaldo Azevedo