As Nações Unidas pediram nesta sexta-feira aos países atingidos pelo vírus zika, suspeito de provocar microcefalia, que permitam o acesso das mulheres à contracepção e ao aborto.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos dirigiu seu apelo especificamente aos países sul-americanos, muitos dos quais não permitem nem o aborto, nem a pílula do dia seguinte (contracepção de emergência), e que aconselharam as mulheres a evitar a gravidez devido ao risco representado pelo vírus.
"Claramente, a propagação do zika é um grande desafio para os países da América Latina. As leis e as políticas que restringem acesso a esses serviços devem ser urgentemente revistas em consonância com os direitos humanos, a fim de garantir na prática o direito à saúde para todos", disse em comunicado Zeid Ra'ad Al-Hussein, chefe do comissariado.
"No entanto, o conselho dado por alguns governos às mulheres para que evitem engravidar ignora que muitas mulheres não têm qualquer controle sobre o momento ou as circunstâncias nas quais podem ficar grávidas, especialmente em âmbitos onde a violência sexual é bastante habitual", acrescentou.
O Alto Comissariado lembrou ainda que a Organização Mundial da Saúde declarou a epidemia uma emergência internacional e advertiu para a propagação "explosiva" do vírus.
Cidades de regiões tropicais, como as da América Latina, são especialmente favoráveis à proliferação do mosquito Aedes aegypti, considerado até o momento o maior vetor de transmissão do vírus. No Brasil, onde o aborto é criminalizado, o crescente número de casos de microcefalia associados ao zika tem ampliado as discussões sobre a contracepção e interrupção da gravidez.
(Com Reuters)
Fiocruz detecta o vírus zika na saliva e urina de pacientes infectados
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou na manhã desta sexta-feira que o zika vírus foi detectado de forma ativa na saliva e urina de pacientes infectados. Em coletiva na sede da instituição, no Rio de Janeiro, o presidente Paulo Gadelha informou que a descoberta foi feita a partir da análise de amostras de dois pacientes com sintomas compatíveis com o vírus zika.
Gadelha ressaltou, no entanto, que embora essa seja uma descoberta que deve mudar os patamares das pesquisas rumo a uma vacina, ainda não é possível afirmar que o vírus possa ser transmitido por meio da saliva e urina. "O fato de haver um vírus ativo com capacidade de infecção na urina e na saliva não comprova ainda que possa haver a contaminação de outras pessoas através desses fluidos", disse Gadelha. "Isso ainda precisa ser esclarecido."
Os estudos foram liderados pela pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em colaboração com a infectologista Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz (INI/Fiocruz). Myrna Bonaldo recomendou que pessoas com patologia compatível ao zika devem ter uma responsabilidade adicional nesse momento, especialmente no contato com gestantes, mas também em relação a outras pessoas. Mulheres grávidas devem evitar situações como grandes aglomerações, onde é possível o contato direto através da transmissão de saliva. Ainda: pessoas de convívio próximo aos infectados devem evitar o uso dos mesmo talheres, copos e objetos de uso pessoal.
Pesquisa - As amostras analisadas pela Fiocruz foram coletadas enquanto os pacientes apresentavam os sintomas do vírus zika. Por meio de testes, foi comprovado que o vírus estava ativo na saliva e urina - ele foi capaz de destruir células em exames de laboratório o que, segundo os cientistas, é uma prova da atividade do microrganismo. A presença do zika foi confirmada pelo exame PCR, que identifica o material genético do vírus. Diagnósticos de laboratório descartaram a presença de dengue e chikungunya.
"Já se sabia que o vírus poderia estar presente tanto em urina quanto em saliva. Mas esta é a primeira vez que demonstramos que o vírus está ativo, ou seja, com potencial de provocar a infecção. Isso responde a uma pergunta importante, porém, são necessários novos estudos para que possamos compreender a relevância desta descoberta para potenciais vias de infecção", afirmou Myrna Bonaldo.
Ainda não se sabe, por exemplo, por quanto tempo o vírus sobrevive na saliva e urina.
O combate ao mosquito - A Fiocruz alerta que, com base nos conhecimentos disponíveis até o momento, as medidas de controle do vetor Aedes aegypti continuam sendo centrais. Além disso, a Fiocruz acredita que não haverá um número elevado de contaminação por zika durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, por agosto ser historicamente um mês de baixa transmissão de vírus pelo mosquito.Fonte:Veja