O Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, é extremamente adaptado aos ambientes urbanos. Ao longo dos séculos, suas fêmeas aprenderam a colocar ovos apenas em ambientes artificiais que retêm água e a não colocar todos os ovos em um só lugar. Garantindo assim, que alguma porção sobreviva. Além disso, os ovos podem sobreviver por meses (mesmo sem água). Todas essas características fazem com que as medidas atuais de combate ao mosquito - uso de larvicidas, inseticidas e adulticidas (fumacê) - não sejam suficientes para acabar com ele. Pensando nisso, pesquisadores do Brasil e no exterior estão buscando alternativas para eliminar os criadouros que vão desde o uso de radiação e mosquitos transgênicos até o desenvolvimento de biodetergentes.
"Os esforços que temos hoje são insuficientes no combate ao Aedes. O fumacê, por exemplo, é uma medida duvidosa. Não sabemos se o mosquito é resistente ou não ao inseticida borrifado nas casas, e depois da chuva os efeitos dele são nulos. É uma medida que precisa ser aprimorada e analisada, para compreendermos a toxicidade em humanos", explica Paulo Ribolla, entomologista especialista em Aedes aegypti da Unesp. Por isso, investir em iniciativas que visam combater o mosquito é a melhor estratégia para lutar contra as doenças transmitidas por ele. Além do governo, a população tem uma grande parte no papel de combate ao vetor, segundo o especialista. "A informação é uma das principais medidas que devem ser adotadas. As crianças deveriam aprender na escola como evitar a criação de focos do mosquito, e quais as doenças que ele transmite", afirma.
Recorde de casos - Em 2015 o avanço da dengue no Brasil foi recorde. Este ano, que mal começou, promete superar o anterior e não só no aumento exponencial no número de casos de dengue, mas também de outras duas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti: zika e chikungunya. De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, o número de casos de dengue este ano já é 52,3% maior do que o do mesmo período de 2015. Nas primeiras oito semanas do ano, foram registrados 396.582 casos prováveis de dengue. No mesmo período de 2015, tinham sido 259.827 casos.
Em relação à febre chikungunya, até a oitava semana epidemiológica o país registrou 3.748 casos, em 18 unidades da federação, dos quais 284 tiveram confirmação com exames laboratoriais. Houve um aumento expressivo nas notificações de casos suspeitos da doença em São Paulo (líder nos casos de dengue), no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Já o zika, que ao contrário das outras infecções o ministério não tem divulgado o número total de casos de infecção pelo vírus no país. Mas, o último boletim, publicado na terça-feira (29) confirmou que o vírus já tem circulação autóctone em todos os estados do país.
Embora existam diversas linhas de pesquisa que buscam maneiras de combater essas três doenças e, inclusive, uma vacina aprovada para dengue, o método mais eficaz para acabar com elas - mas que também é a principal dificuldade - é eliminar o vetor. "Esse é um mosquito oportunista, que vai encontrar maneiras de se reproduzir mesmo em ambientes difíceis", explica a bióloga Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Esse inseto astuto, que desenvolveu uma série de mecanismos evolutivos para sobreviver, tem escapado de todas as táticas de prevenção e controle da doença.
Para Ribolla, as iniciativas que visam matar o Aedes são muito importantes nos momentos de crise como o que estamos vivendo. "No entanto, é importante lembrar que elas são paliativas e que a ação primordial é o controle dos criadouros com medidas educativas", disse o entomologista.Fonte:Veja