As revelações dos Panama Papers apontando a existência de empresas em paraísos fiscais ligadas a políticos abalaram governos e muitos países já enfrentam protestos nesta segunda-feira. O terremoto político - que que já está sendo chamado do maior vazamento de dados da história - atingiu a Grã-Bretanha, França, Suíça, Austrália, Nova Zelândia, Islândia e outros países. Já no Brasil, os documentos relevam 107 empresas offshores ligadas a pessoas citadas na Operação Lava Jato e a outros políticos e partidos.
A chefe da autoridade fiscal britânica, Jennie Grainger, afirmou que vai pedir acesso oficial ao material para fazer uma investigação. "Vamos examinar os dados e agir de forma adequada. Nossa mensagem é clara: os dias de esconder dinheiro acabaram". O primeiro-ministro David Cameron ainda quer convocar uma cúpula para lidar com paraísos fiscais, em maio. O próprio pai do chefe do governo britânico apareceu na lista das pessoas envolvidas como beneficiário de um empresa em paraíso fiscal usada para burlar o fisco.
O governo da França anunciou que vai abrir inquéritos sobre evasão fiscal. Políticos, empresários e celebridades do país são apontadas como sócias ou beneficiárias de offshores. A Suíça figura como um dos países mais ativos no Panama Papers. Mais de 1.200 companhias suíças figuram entre os 14.000 bancos, escritórios de advocacia e outros intermediários que teriam ajudado a criar offshores destinadas à ocultação de fundos e à lavagem de dinheiro. Apenas Hong Kong e Grã-Bretanha superam a Suíça neste aspecto, com 2.200 e 1.900 empresas, respectivamente.
O primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, está sendo pressionado a renunciar depois que o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, por sua sigla em inglês) revelou neste domingo que ele é beneficiário de uma empresa offshore usada para burlar o fisco islandês. Caso não renunciar, Gunnlaugsson deve enfrentar uma "votação de confiança" no Parlamento - um referendo para validar seu mandato.
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Austrália e Nova Zelândia - Documentos atestam que a Nova Zelândia foi utilizada por companhias e políticos estrangeiros como um paraíso fiscal para movimentação financeira. Mais de 12.000 empresas registradas na Nova Zelândia não pagam impostos locais pelos lucros obtidos no exterior e a identidade dos beneficiários é mantida em segredo - num indício de ocultação de bens. O governo neozelandês informou que ira investigar a "situação fiscal" das empresas. Já as autoridades da Austrália estão investigando 800 cidadãos do país por possíveis evasões fiscais reveladas pelos Panama Papers.
Brasil - Os documentos mostram que políticos brasileiros e seus familiares utilizaram serviços, foram ou são donos de empresas em paraísos fiscais. Há ligações com PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB. Entre outros, aparecem vinculados a empresas offshores o deputado federal Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) e o pai dele, o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso; o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto; os ex-deputados João Lyra (PSD-AL) e Vadão Gomes (PP-SP), e o ex-senador e presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014. Há também alguns parentes de políticos que têm ou tiveram offshores, como Gabriel Nascimento Lacerda, filho do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB); e Luciano Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA).
Os vazamentos incluem 11,5 milhões de documentos de quase quatro décadas da companhia panamenha Mossack Fonseca, especializada em criar e gerir empresas em paraísos fiscais, com informação de mais de 214.000 offshores em duas centenas de países e territórios. A ICIJ, em parceria com veículos de mídia do mundo todo, promete lançar as informações gradualmente nos próximos dias. Participaram da apuração 376 jornalistas, de 109 veículos de mídia, em 76 países. No Brasil, participaram da apuração o UOL, o jornal O Estado de S. Paulo e a RedeTV!.