Pouco antes de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, criticou abertamente nesta terça-feira as negociações para montagem do eventual novo governo. Ele disse que o PSDB prefere não participar da indicação de cargos, mas sim de uma agenda parlamentar para tirar o país da crise, e relatou o receio de que a composição ministerial articulada por Temer se pareça com a de Dilma Rousseff - que formou, ainda que com um loteamento recorde do Estado, uma base apenas artificial e sem condições de aprovar medidas para reverter os principais entraves econômicos.
"Nós temos o receio de que esse governo se pareça muito com aquele que está terminando os seus dias. Confiamos no presidente Michel Temer, na sua capacidade de dar ao Brasil esperança, mas o PSDB prefere não participar com cargos no governo, e sim da agenda parlamentar. Essa é a agenda que, na verdade, possibilitará a tirada do Brasil da crise", disse Aécio Neves.
Com nomes do partido já escalados para compor um provável governo Temer, a Executiva do PSDB se reuniu nesta tarde, com a presença de todos os governadores tucanos, para afinar os últimos termos da lista de condições para que a legenda apoie Temer no Congresso. Os principais pontos desses documentos foram antecipados pelo site de VEJA. Aécio e os líderes do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), em seguida, foram ao Palácio do Jaburu para uma reunião com o vice.
Após a reunião da Executiva, Aécio reforçou o discurso de que o PSDB não vai indicar nomes para compor o alto escalão do provável governo peemedebista, mas afirmou que vai deixar Temer à vontade para fazer convites - e fez questão de reforçar que, se ele quiser convidar tucanos, "não há problema". Entre os nomes do partido que já circularam na bolsa de apostas de Temer estão os deputados Bruno Araújo (PE) e Mara Gabrilli (SP) e o senador José Serra (SP).
O presidente nacional do PSDB disse ainda estar vendo as pressões que o peemedebista vem recebendo de várias forças políticas e fez um alerta: "É preciso que o governo Michel Temer, em assumindo, seja um governo que tenha a credibilidade e a capacidade de liderar as mudanças que o Brasil aguarda", afirma. Nos bastidores, fala-se que o tucano desaprova alguns nomes em negociação com Temer, na maioria representantes de partidos que integraram o alto escalão de Dilma.
"Queremos, em um segundo momento, ter conversa com a área econômica em torno da questão federativa, de medidas que possibilitem aprovação de reformas, que sinalizem para a retomada do crescimento e do emprego no país. Nós não estaríamos contribuindo nesse instante para esse objetivo se tivéssemos aqui nos dedicando a distribuir cargos e apresentando nomes", afirmou o tucano.
Apoio - O PSDB preparou um documento com quinze tópicos para selar o apoio do partido à gestão Temer. Entre os principais pontos estão o compromisso de continuidade de todas as investigações em curso, com destaque para a Operação Lava Jato, que mira grandes caciques do partido de Temer, e a realização de uma imediata reforma política, com a adoção do modelo parlamentarista após as eleições de 2018.