Três ações penais no STF. Três inquéritos. Uma condenação por improbidade administrativa. É acuado de desviar dinheiro público e investigado por suposta participação numa tentativa de assassinato. Também está na Lava Jato. Eis a biografia, que é uma ficha corrida, de André Moura (PSC-SE), líder do novo governo na Câmara.
O que eu acho? Ora, apenas inaceitável! Pior: o homem sempre foi um aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a solução, que acabou sendo praticamente imposta a Michel Temer por um conjunto de partidos que passou a ser chamado de “Centrão”, é vista como mais um ardil do presidente afastado da Câmara.
Vamos lá. O que se chama agora de “Centrão” reúne fabulosos 12 partidos — PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL —, com um total de 225 parlamentares. Esse grupo pretende formalizar a sua atuação em conjunto nos próximos dias, no apoio ao governo. Só para registro: DEM e PMDB prefeririam que o líder fosse Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas Temer cedeu à pressão daquele blocão.
É claro que Moura nega todas as acusações que há contra ele e se diz vítima de adversários políticos, uma desculpa que nada tem de original. O fato é que o STF não costuma aceitar denúncias por uma coisinha qualquer. É preciso que os indícios sejam bastante contundentes. E o homem foi tornado réu no tribunal três vezes.
Eis aí um risco que o presidente Michel Temer não pode nem deve correr. Afinal, o agora presidente interino viu a titular ser afastada do cargo justamente porque se tornara ré no processo de impeachment; afinal, o também réu Eduardo Cunha foi afastado do mandato e do comando da Câmara. Acho que desafia o bom senso e a paciência das pessoas conduzir alguém como Moura à liderança do governo.
Eis aí: esse é o momento em que um governante tem de resistir. Não sei se o presidente foi alvo de alguma ameaça ou chantagem, mas não creio. Nem tempo para isso houve.
Sim, é verdade, há pessoas investigadas no ministério de Temer. O desejável, já escrevi também, é que não houvesse. Ocorre que a ficha do tal Moura é particularmente expressiva, não é mesmo? Por mais que eu compreenda a necessidade que tem Temer de manter uma base ampla, há certa linha que não pode ser ultrapassada.
Moura pode representar tudo, menos o anseio de mudança que surgiu nas ruas e que acabou convergindo com o afastamento de Dilma e com a ascensão de Temer à Presidência. Quem quer que tenha levado o nome de Moura ao presidente como um fato consumado deveria ter ouvido uma resposta: “Os meios qualificam os fins”. E podem também comprometer aquilo a que se almeja.
Não reconheço no tal Moura as qualidades mínimas necessárias para ser o líder do governo na Câmara. Se ele for inocente, ótimo! Em casos assim, no entanto, a dúvida tem de ser dirimida em favor da sociedade.
A indicação de Moura é um óbvio mau passo do governo Temer.