Delator da Operação Lava Jato, o senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) disse nesta sexta-feira, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que as conversas sobre pagamento a parlamentares para evitar convocações na CPI da Petrobras eram "disseminadas" no Congresso. O ex-líder do governo Dilma afirmou que episódios assim não se restringiram à CPI da Petrobras e declarou que a distribuição de dinheiro ocorria também em outras comissões de inquérito e na Câmara. Delcídio prestou depoimento como testemunha de acusação no processo em que o ex-senador Gim Argello é acusado de cobrar propina de empreiteiros para evitar que fossem chamados a prestar depoimentos em 2014 na CPI da Petrobras no Senado e na CPI mista que investigava irregularidades relacionadas à petroleira.
Segundo as investigações, na condição de vice-presidente das duas comissões de inquérito, o hoje ex-senador recebeu pelo menos 350.000 reais de Léo Pinheiro, da OAS, por meio de repasses à Paróquia São Pedro, em Taguatinga (DF), e 5 milhões de reais disfarçados de doações eleitorais da UTC. "Essa CPI é um caso, mas existem outros casos [de pagamentos]. Existia um zum zum. Um senador também ouvia algum rumor, perguntava, queria saber. Quando essas coisas começam a acontecer, não tenha dúvida, não é fumaça. Tinha uma coisa concreta por trás desses rumores", disse Delcídio.
"Essa conversa [de cobrança] já rodava no Congresso. Era uma coisa que estava sendo disseminada dentro do Senado. Existia um rumor muito grande sobre a operação em si de não convocar em troca de ajudar determinados parlamentares. Isso nós ouvíamos intensamente", afirmou. "Isso era muito disseminado. As coisas vão aparecendo. Mesmo que alguém tenha um comportamento de tentar contornar situações ou esconder é impossível", completou ele.
De acordo com o delator, o lobista Julio Camargo e o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, disseram a ele "que haviam [recebido] pedido não só do Gim, mas de outras pessoas também, aparentemente o Marco Maia e do próprio Vital do Rêgo e que era para apoio e suporte para eleições em troca de eles não serem convocados". "Todo empresário tem preocupação [de ser exposto na CPI]. Só o fato de ser convocado. Mesmo ouvindo as perguntas mais estapafúrdias [traz] preocupação (...) por mais que a CPI não dê em nada", completou.
"Julio Camargo externou essa preocupação de que haveria um movimento na CPI no sentido de se negociar requerimentos ou convocações. Ricardo Pessoa também me falou sobre isso, que estaria havendo um movimento no sentido de se poupar algumas convocações, mesmo com os requerimentos pautados", detalhou Delcídio. Em seu depoimento, porém, o ex-senador disse não ter conhecimento se a distribuição de dinheiro foi caixa dois de campanha. "A justificativa que apresentavam era para a campanha, mas se foi doação oficial ou caixa dois estou impedido de responder porque não participei".
José Antunes Sobrinho, um dos sócios do grupo Engevix, também prestou depoimento e disse diante de Sergio Moro ter sido procurado por Léo Pinheiro, que teria lhe feito um convite para integrar o grupo de empreiteiras que atenderiam aos pedidos de Gim Argello por doações eleitorais. De acordo com Antunes Sobrinho, o ex-presidente da OAS citou, além da própria empresa, Toyo Setal, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e "uma das Galvão, ou Queiroz Galvão, ou Galvão Engenharia" como membros do grupo. Cada uma contribuiria com 5 milhões de reais ao ex-senador.
Após o encontro com Pinheiro, o sócio da Engevix relata ter decidido não aceitar a proposta, posição reiterada em um encontro com Argello e seus assessores Paulo Roxo e Valério Neves na casa do ex-senador, em Brasília. Antunes Sobrinho disse ter ouvido novamente o convite e, ao recusá-lo novamente, Gim Argello teria dado a entender que a Engevix poderia enfrentar "problemas" na CPI. "A Engevix não querendo participar, podemos colocar outra em seu lugar", disse o ex-senador, segundo o empreiteiro.Fonte:Veja