O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, compareceu à Câmara dos Deputados nesta quarta-feira para participar de debates sobre uma série de medidas de combate à corrupção proposta pelo Ministério Público Federal. Da tribuna do plenário, Dallagnol classificou o atual modelo de punição à corrupção como uma "piada" e comparou o crime a uma "assassina sorrateira, invisível e de massa".
"A corrupção mata. A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. É um serial killer que se disfarça de buraco de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza", afirmou o procurador. Para sustentar a fala, ele também citou um caso de fraude em licitação de remédios na Bahia em que o custo total chegou a representar dez vezes o preço de uma farmácia.
O pronunciamento de Dallagnol foi realizado diante de uma plateia esvaziada de parlamentares, que são um dos principais alvos das investigações que apuram os desvios na Petrobras. Ao longo do discurso, o plenário da Casa esteve ocupado na maior parte por representantes da sociedade civil.
O procurador também apresentou dados sobre a corrupção.
Segundo ele, a estimativa é a de que a prática seja responsável por um desvio de 200 bilhões de reais dos cofres públicos. "Esse valor poderia triplicar o investimento federal em saúde ou educação ou quintuplicar tudo que se investe em segurança pública na União inteira", comparou. Ele ainda citou estudo que aponta que a probabilidade de sanções pela prática da corrupção é de apenas 3%.
"No Brasil, a punição da corrução é uma piada, e uma piada de mau gosto. A punição começa em dois anos e a pessoa vai prestar serviços à comunidade ou vai doar cestas básicas. Isso gera uma ausência de barreira. Nós não temos muros contra a corrupção e estamos expostos aos nossos inimigos", disse Dallagnol.
Ao fim do discurso, o procurador exaltou a necessidade de uma nova legislação que feche as brechas da impunidade, que crie instrumentos para a recuperação do dinheiro desviado e possibilite uma mudança de cultura de modo a desestimular a corrupção. Dallagnol também defendeu uma reaproximação entre a sociedade e o Congresso. "É preciso que a sociedade reconheça que nem todo político é corrupto, que não cabe generalizar porque a generalização condena os bons com os ruins. A generalização afasta as boas pessoas da política, quando o que nós queremos é o contrário", afirmou.