O Ministério Público Federal encaminhou ao juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, pedido para que a justiça fixe em 10 milhões de dólares (33,9 milhões de reais na cotação de hoje) o valor mínimo que a jornalista Cláudia Cruz, mulher do presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, o lobista João Augusto Henriques, o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o empresário Idalécio Oliveira devem pagar para reparar os danos causados pelo esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina pelo qual foram denunciados. Moro já aceitou a argumentação inicial do MP de que há indícios de que eles atuaram no pagamento de propina, remessa de recursos ao exterior e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras e um contrato no Benin. Nesta quinta, os quatro se tornaram réus neste processo da Operação Lava Jato.
Ao apresentar a denúncia, o Ministério Público rastreou o dinheiro considerado suspeito desde que saiu dos cofres da Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH), de propriedade de Idalécio, como propina na venda fraudulenta do campo de Benin na Petrobras, até passar pela offshore Acona, do lobista João Augusto Henriques, ter parte remetida para o trust Orion, do deputado Eduardo Cunha e ser pulverizado na offshore Netherton e depois na conta secreta Kopek, de Cláudia Cruz.
Com dinheiro que o MP diz ser resultado de propina, entre 2008 e 2014, a conta suíça Kopek, que tinha Cláudia como beneficiária final, lavou 1,079 milhão de dólares (cerca de 3,66 milhões de reais) na compra de serviços e artigos de luxo. "Entre 20/01/2008 e 2/04/2015, por inúmeras vezes, dentre outros locais em lojas de artigos de luxo localizadas nas cidades de Nova Iorque, Miami, Orlando, Barcelona, Zurique, Paris, Roma, Lisboa e Dubai, a denunciada Cláudia Cordeiro Cruz, dolosamente, utilizando-se de valores de propina recebidos na conta suíça Kopek (em que a denunciada Cláudia Cruz era beneficiária final), converteu em ativos de aparência lícita consistentes em bens e serviços, incluindo artigos de grife como ternos, bolsas, sapatos e roupas femininas", detalha o MP.
A jornalista pagou diária no hotel sete estrelas Burj Al Arab, em Dubai, no valor de 5.927 dólares, e apenas nas faturas do cartão de crédito Corner Card, de que Cláudia Cruz era titular, foram mapeados gastos de 526.760 dólares. Entre os itens de preferência da senhora Eduardo Cunha, 7.707,37 dólares na Chanel em Paris, 2.646,05 dólares na loja da Christian Dior, 4.184,94 dólares na Loja Charvet Place Vendôme, na capital francesa, 2.945,48 dólares na Balenciaga, 4.497,93 dólares na loja Prada, 3.536,39 dólares na Louis Vuitton em Lisboa, além de mais gastos nas filiais da Chanel de Dubai, em outras passagens pela Louis Vitton, Chanel, Balenciaga e Charvet e de 1.676,65 dólares na loja Hermès.
"Mesmo tendo assinado os documentos de abertura da conta Kopek no exterior, a denunciada Cláudia Cordeiro Cruz não declarou a existência desses valores à Receita Federal, ocultando a existência da conta suíça porque sabia que se tratava de estratagema utilizado para o recebimento de propina pelo seu companheiro", acusam os investigadores da Lava Jato. A declaração de Imposto de Renda da jornalista mostra variação patrimonial a descoberto e não é compatível com os gastos em itens de luxo. "A declaração de Imposto de Renda foi mais um estratagema utilizado para dissimular o aumento patrimonial sem causa lícita", completa a força-tarefa do MP. Na declaração de IR de Cláudia Cruz em 2015, ela declarou patrimônio total de 3,7 milhões de reais.
Viagens - Para comprovar o padrão de gastos da família de Eduardo Cunha e vincular as despesas ao esquema de corrupção instalado na Petrobras, o Ministério Público mapeou ainda as viagens internacionais do casal Eduardo e Cláudia. Entre o início de 2013 e fevereiro de 2015, a família viajou nove vezes ao exterior para destinos como Nova Iorque (duas vezes), Miami, Orlando, Barcelona, Zurique, Paris (três vezes), Roma, Lisboa, São Petesburgo e Dubai, período no qual os gastos de cartão de crédito internacional totalizaram 526.760 dólares.
A denúncia apresentada ao juiz Sergio Moro diz que a jornalista Cláudia Cruz foi beneficiada pelo que os investigadores chamam de núcleo político do esquema criminoso, onde eram distribuídas propinas em troca da manutenção de diretores corruptos na Petrobras.