Fico cá me perguntando de onde vem a resiliência do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Eu me espanto que, em público, ele não se mostre nem mesmo abatido. Por mais, digamos, frio que o sujeito seja, em algum momento, notam-se esgares de um esmorecer. Nele, nunca! Parece infatigável e inatingível. E olhem que a sua biografia passou a persegui-lo de forma contundente.
Por que digo isso? Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, afirmou em sua delação premiada que teve reuniões semanais com Cunha durante quatro anos para tratar de um esquema de propina envolvendo o FI-FGTS e que o parlamentar embolsou 80% dos recursos desviados desse fundo.
A delação de Cleto deu origem à operação Sépsis, deflagrada nesta sexta. Os encontros com Cunha, segundo o delator, teriam ocorrido no apartamento funcional do peemedebista e depois na residência oficial da Presidência da Câmara, quando ele assumiu o comando da Casa, em fevereiro de 2015.
Cleto relatou que uma empresa de Eike Batista pagou propina a ele próprio e a Cunha para obter recursos do fundo de investimentos do FGTS. Cleto chegou ao alto escalão da Caixa por indicação de Cunha. Segundo ele mesmo, em contrapartida, tinha de passar informações privilegiadas ao parlamentar referentes às empresas que pleiteavam recursos do FI-FGTS, fundo de investimentos ligado ao banco estatal.
De acordo com Cleto, Cunha extorquia essas empresas e partilhava a propina com ele e com Lúcio Funaro. Numa dessas divisões, em 2012, o então vice da Caixa se desentendeu com o suposto operador de Eduardo Cunha. Funaro, então, “ameaçou colocar fogo na casa de Cleto, com os filhos dentro”, conforme trecho da delação.
Nova denúncia
Pois é… E o Ministério Público Federal ofereceu outra denúncia contra Cunha por esse seu suposto envolvimento com um esquema de corrupção na Caixa. A acusação também tem como alvo Henrique Eduardo Alves, ex-ministro do Turismo; Funaro; seu assessor, Alexandre Margotto, além de Cleto. Esta é a terceira denúncia contra Cunha na Lava Jato.
Mas não é só isso. Com a cara mais limpa do mundo, nega as acusações todas, sugere uma espécie de conspiração, como a não entender por que, afinal, ele está na lista de praticamente todos os delatores. Alguns deles nem tinham vínculos entre si. É claro que o que vai agora não é direito, mas apenas perplexidade: por que tantos se ocupariam de acusar um inocente?
Convenham: mesmo quando o sujeito é um profissional, algum constrangimento sobrevém. Não a Cunha. Ele parece entender que tudo isso é parte do jogo. Na sua cabeça, é muito provável, são ossos a serem deglutidos pelo ofício. Vive uma realidade que não tem como perdurar.
Cunha poder ser julgado primeiro por seus pares em razão do processo por quebra de decoro. Vamos ver o que vai dizer a CCJ. Tem tudo para ser cassado. Se isso não acontecer, é certo que, pelo crivo do Supremo, ele não passa.Fonte:Reinaldo Azevedo