Não é por nada, não. Mas o fato é que há setores do jornalismo que parecem mais traumatizados com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado que já caiu em desgraça, do que Dilma Rousseff.
O parlamentar, que já está mais pra lá do que pra cá do ponto de vista político, ainda navega no mito. É curiosa a resistência da imprensa em reconhecer que ele já está acabado. Agora é questão de tempo. Talvez possa fazer estragos e prejudicar a vida de muita gente. Mas pode fazer pouco por si mesmo. Até uma eventual delação premiada, a esta altura, lhe seria difícil. Como distinguir o fato da vingança?
Não obstante, o noticiário sobre Cunha é borrascoso. Não menos eloquente é o jornalismo de opinião. Querem um exemplo claro? Pois não! Rogério Rosso (PSD-DF) desponta como um forte candidato a assumir os sete meses restantes da Presidência da Câmara que caberiam a Cunha. Depois, não pode se recandidatar.
Aqui e ali, leio textos verdadeiramente apocalípticos alertando para o risco que Rosso representaria. Notem: há uma denúncia contra o deputado que já tem algum tempo e que foi reencruada: ele também teria recebido dinheiro do chamado mensalão do DEM e faria parte do cineminha de horrores de Durval Barbosa, aquele senhor que liquidou a carreira política de José Roberto Arruda, vocês devem se lembrar. Será verdade ou mentira? Rosso não é um investigado.
Se querem considerar que ele não pode ser presidente da Câmara por isso, ok! Parece-me uma razão forte, embora esse meio da bandidagem precise ser visto com muito cuidado. O que me parece uma bobagem rematada é afirmar que Rosso não pode presidir a Casa porque, sendo do Centrão e um ex-aliado de Cunha (ou, vá lá, ainda aliado), poderia mexer os pauzinhos para interferir na cassação.
Ora, quem faz esse tipo de afirmação tem um compromisso com o leitor, certo? Explicar de que maneira o futuro presidente pode interferir no processo. E eu lhes asseguro: não há maneira nenhuma! Se vitorioso Rosso, Rodrigo Maia ou qualquer outro, o destino de Cunha já está desenhado e vai depender apenas do plenário da Câmara. Se este falhar, ainda há o STF, onde, parece-me evidente, o peemedebista não vai se dar bem. Não conheço uma só pessoa com informações relevantes sobre a área que ache que ele vai escapar.
Cassado agora pelo Conselho ou condenado mais tarde pelo Supremo, o que implicará perda do mandato e a migração para a 13ª Vara Federal de Curitiba, vejo Cunha como um cadáver político adiado, mas que ainda procria — notícias apenas —, e também como um presidiário adiado.
Não há presidente da Câmara que consiga salvar Cunha de sua própria biografia. E inexistem os instrumentos legais ou regimentais para livrar a cara do deputado na Câmara. Isso tudo é pura espuma. O peemedebista pode até torcer por Rosso, como querem alguns, e Rosso pode até torcer por Cunha, mas, dado o estágio a que as coisas chegaram, não há poder discricionário nenhum de um presidente da Câmara que possa ser útil à causa do deputado peemedebista.
O jornalismo precisa se livrar desse mito e desse fantasma. Cunha não tinha e não tem superpoderes. Hoje, é só um político que caiu em desgraça. Querem alguns que ele detém um arsenal de armas químicas da política que poderia dizimar muita gente.
Se tiver, que use! O país agradece. Em favor de si mesmo, o cadáver já nada pode fazer. Tampouco pode ajudá-lo o futuro presidente da Câmara.Fonte:Reinaldo Azevedo