Uma gravação anexada a um dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) indica o funcionamento de negociações em torno das delações premiadas no esquema de corrupção da Petrobras. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, a gravação envolve Alexandre Margotto, ex-sócio do corretor de valores Lúcio Funaro, apontado como operador do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
No áudio, Margotto pede dinheiro para não depor contra Funaro. "Eu quero estar do lado do Lúcio e que ele não me desampare financeiramente nem juridicamente. Mas eu já quero cem pau agora, R$ 100 mil", afirma, a um interlocutor identificado como Bob. O diálogo, ao qual Folha teve acesso, foi anexado pela defesa de Funaro aos autos do processo que resulltaram em sua prisão preventiva no dia 1º. O corretor é acusado de ser operador de Cunha em um esquema de corrupção na Caixa Econômica. A conversa revela outro caso de negociação para evitar delação.
O interlocutor identificado como Bob pergunta a Margotto o que ele poderia falar sobre a disputa entre Funaro e o grupo Schahin. "Não depor contra ele já é um grande favor. Eu sei toda a história do Schahin", diz Margotto, que também afirma que Funaro "comprou um juiz que eu arrumei". A Schahin é investigada pela Lava Jato e acusa Cunha e Funaro de terem chantageado a empresa no Congresso. O motivo alegado seria uma dívida de R$1 bilhão que Funaro cobra, após prejuízo que a empreiteira teria lhe causado em uma obra de hidrelétrica em Rondônia. No áudio, gravado em abril, Margotto fala que encontraria um advogado no dia seguinte. O encontro seria para discutir sua delação.
O advogado também foi alvo de mandados de busca e apreensão na Operação Sépsis, que prendeu Funaro. Margotto pede o pagamento de dívidas que o corretor teria com ele, somando cerca de R$ 12 milhões, além dos R$ 100 mil emergenciais. "Primeiro, só não quero ser preso. Segundo, ter dinheiro para pagar minhas contas".