Dando sequência à série de manobras que continua a impedir um desfecho sobre o processo de cassação contra o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF) acatou parte dos recursos ingressados por Cunha para tentar reverter a aprovação do pedido da perda do mandato por quebra de decoro. A ação tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a última escala antes de o processo ser analisado em plenário. Se o colegiado aprovar o parecer de Fonseca, no entanto, o processo volta para debate no Conselho de Ética.
Na ação, Cunha apontou para uma série de irregularidades na tramitação de seu processo no conselho. O esforço principal do peemedebista era para reverter a votação que pavimentou a aprovação de seu processo de cassação - e foi justamente esse o ponto acatado por Fonseca, considerado aliado do presidente afastado.
Assim como na votação do impeachment de Dilma Rousseff, os membros do Conselho de Ética descartaram o painel eletrônico e votaram em chamada nominal. A medida, para Cunha, provocou um "efeito manada", o que estaria configurado em ação do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que, após, defender a inocência do representado, votou pela sua cassação quando o resultado já se mostrava definido.
No relatório, Fonseca afirma que não há a previsão regimental para que a votação não se desse por meio do painel eletrônico e que tampouco caberia ao presidente do colegiado, o deputado José Carlos Araújo (PR-BA), escolher a ordem em que se daria a chamada dos deputados.
"Ao meu sentir, a questão da metodologia de votação adotada pelo Conselho de Ética - chamada nominal por bloco e por ordem alfabética - é ilegal, pois contraria frontalmente o que previsto em nosso regimento interno, como já foi demonstrado", afirmou o relator. Ele sustentou também que a mudança no formato de votação representou um "prejuízo enorme" para Cunha motivado pelo efeito cascata.
A decisão de Fonseca, se aprovada pela CCJ, anula a aprovação do pedido de cassação e leva o processo contra Cunha de volta ao Conselho de Ética, quando terá de ser feita uma nova votação. A comissão deve analisar o parecer do relator somente na próxima semana.
Cunha também trabalhava para destituir o relator que sugeriu a cassação do seu mandato, o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que defendeu a perda de mandato do presidente afastado alegando que ele mentiu sobre as contas secretas que mantinha fora do país e que recebeu propina no esquema de corrupção da Petrobras. O presidente afastado da Câmara é réu em duas denúncias no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Operação Lava Jato.
Fonseca rejeitou o impedimento de Marcos Rogério. O presidente afastado argumentava que ele estaria impedido de continuar à frente do processo por quebra de decoro após ter deixado o PDT e migrado para o DEM, partido que fazia parte do bloco de apoio que chancelou a sua vitória na disputa pela presidência da Câmara. Para o relator, no entanto, a medida não acarretou prejuízo.
O relator também não identificou que houve cerceamento da defesa, conforme alegava Cunha, e negou o questionamento sobre o aditamento de novas provas à denúncia. Fonseca ainda rejeitou a destituição do presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), que Cunha alegava ser seu "algoz declarado".Fonte:Veja