Acho que a abertura da Olimpíada será, sim, bacana e emocionante. Aposto que a maioria das disputas se dará sem incidentes e que, ao fim de tudo, vai se considerar que o país fez bonito. Assim foi com a Copa do Mundo.
O ponto é outro.
Parte do mau humor de parcela considerável dos brasileiros com os Jogos se dá por contaminação. O que vai mal no país é a economia. O que está em transe é a política.
A Copa do Mundo, apesar da humilhação da nossa seleção em campo, foi bem-sucedida como evento. Não fossem a roubalheira e a megalomania, poder-se-ia dar mais relevo a benefícios óbvios que restaram para a população — a modernização dos estádios é um deles. O torcedor merece esse respeito. Errado é assaltar os cofres públicos.
A população da cidade do Rio experimenta, sim, melhorias óbvias em alguns serviços. Elas estão aí por causa dos Jogos. Os infortúnios da segurança pública, por exemplo, não estão relacionados a evento. Ao contrário: essa é a resposta que o país que abrigou a Olimpíada não conseguiu dar.
Se, desde o começo, Copa e Jogos não estivessem ligados ao discurso cafona, populista e patrioteiro de um partido político, flagrado com a boca na botija, os brasileiros se sentiriam liberados para comemorar mais e, por que não?, até para se orgulhar.
Não é a nossa capacidade de realizar eventos gigantescos que está em questão. Setores da economia brasileira dominam tecnologia de ponta capaz de rivalizar com o que de melhor se faz mundo afora.
O nosso primitivismo está em outro lugar. É a política que ainda é movida a tração animal; é o respeito aos direitos individuais que ainda está no lombo do burro; é o arcabouço legal para empreender que ainda é movido a vapor; é o respeito à cidadania que ainda é analógico; é a tara pelo estatismo que ainda revela uma noção de país coberta de sapé e sentada de cócoras. Como o Jeca Tatu. Como a casa do Jeca Tatu.
Infelizmente, desde a sua fundação e ao longo de 13 anos no poder, o PT fez dessa soma de atrasos uma ética e uma estética. E nos empurrou para o buraco. Mas estamos começando a sair dele.
Assim, meu bom brasileiro, vibre com os Jogos. Tenho a confiança de que dará quase tudo certo. De zero a dez, a nota final ficará perto de nove.
O nosso problema está no advérbio, está no “apesar”. Sem os jogos, só estaríamos mais tristes.
Como país, temos de cuidar é dos nossos pesares, em vez de censurar a nossa disposição para a celebração.
Divirta-se!.Fonte:Reinaldo Azevedo