Quando Tite abriu mão do posto e Rogério Micale foi confirmado como comandante da seleção olímpica que buscaria o ouro na Rio-2016, choveram elogios ao treinador baiano de 47 anos, até então desconhecido do grande público. O repertório teórico que demonstrou, com sua fala mansa e simpatia, agradaram de imediato. Os treinamentos inovadores e a predileção pelo ataque chamaram a atenção durante a preparação e Micale chegou aos Jogos com enorme prestígio. No entanto, depois de dois jogos e nenhum gol marcado, Micale já se vê na berlinda. Na madrugada desta segunda-feira, o técnico concedeu entrevista no Mané Garrincha, em Brasília, e novamente fez observações sóbrias e pertinentes sobre o empate contra o Iraque. Agora, só falta fazer o time jogar.
“Devemos desculpas ao nosso torcedor e ao povo de Brasília. A torcida nos empurrou muito, foram poucas vaias. Isso nos gera uma sentimento de culpa por ter frustrado nosso torcedor que veio para prestigiar a seleção.” Apesar da decepção, Micale conseguiu sorrir diversas vezes ao longo da entrevista e se disse preparado para as cobranças que certamente virão. “Não sei dizer se acabou a lua de mel (com a torcida), mas estamos preparados para essas situações, para assimilar as críticas e tentar revertê-las com trabalho”.
Ao saber que Neymar e outros atletas não pararam para atender a imprensa, Micale novamente buscou evitar conflitos. “Gostaria de pedir desculpas (pelo fato de os jogadores não terem falado). No vestiário, a tristeza é normal. O momento de luto ainda cabe hoje, merecemos as críticas neste momento, mas já conversamos que precisamos reagir.” Segundo ele, o Brasil sofreu nas duas partidas para furar a retranca dos adversários e foi prejudicado pela ansiedade dos atletas.
“O futebol mundial evoluiu demais, o jogo é muito estudado, os times aprenderam principalmente como se fechar, porque destruir é muito mais fácil que construir. Quando você encara uma equipe fechada, é preciso fazer com que a bola entre pela primeira vez para mudar o panorama, o que não aconteceu. Treinamos muito essa situação, tentamos entrar por dentro, com a passagem dos laterais.”
Micale chegou a reclamar do estado do gramado, mas se policiou para não transferir responsabilidades. ” Atravessar duas linhas de quatro é difícil e precisamos de um bom gramado para poder tocar de primeira, o que não encontramos aqui. Mas isso não é desculpa.”
Principal esperança do time, o ataque voltou a decepcionar nesta noite. Neymar soltou mais a bola, mas isso não se refletiu em melhora na equipe. O capitão criou poucas chances e falhou demais nas bolas paradas. Gabriel Jesus, escalado como o mais avançado, novamente não rendeu. Gabriel Barbosa, o melhor dos três, demonstrou personalidade, mas também finalizou pouco.
Micale, que mexeu muito no setor nas duas partidas e já fez elogios ao reserva Luan, não confirmou se Gabriel Jesus poderá ser sacado na próxima partida. “Vou ter um tempo para avaliar se temos que trocar o ataque. Não funcionou, eu mexi, e também não funcionou. Todos os que jogam na frente tiveram no mínimo 45 minutos de jogo. Não devemos individualizar a responsabilidade. Vou esfriar a cabeça um pouco e refletir”
Micale não elevou o tom de voz em nenhum momento, nem mesmo ao ser provocado sobre os gritos de “Marta”, a estrela da equipe feminina que vem encantando na Rio-2016. “Não dá para comparar futebol masculino e feminino. Mas damos parabéns às meninas, estamos torcendo por elas e espero que a equipe masculina possa ter o mesmo sucesso no final.”
O treinador não definiu o substituto de Thiago Maia, suspenso com dois cartões amarelos, e disse que a prioridade é retomar a autoestima da equipe para a partida decisiva, na próxima quarta-feira, diante da Dinamarca, na Fonte Nova. “Estou triste, mas também tenho confiança. O importante agora é estar forte mentalmente. Vamos lutar e espero que Salvador nos abrace. Precisamos avançar e contamos com o torcedor.”Fonte:Veja