A seleção brasileira iniciou a preparação para a Rio-2016 sob enorme expectativa. Depois de fracassos históricos como o 7 a 1 de 2014 e duas imperdoáveis eliminações na Copa América, a equipe via na Olimpíada o cenário ideal para se reaproximar do torcedor e readquirir identidade. As ideias de Rogério Micale, o substituto de Dunga, e o talento de Gabriel Jesus, Gabriel Barbosa e, sobretudo, Neymar, pareciam garantias de gols e bom futebol. A empolgação ruiu em 180 minutos. Nada justifica empatar sem gols contra África do Sul e Iraque, em casa. Ainda há tempo de reverter a situação, mas, até o momento, a seleção masculina acumula decepções.
Neymar
O atacante, que por exigência do Barcelona não disputou a Copa América Centenário, ainda não correspondeu à condição de estrela dos Jogos. Apesar de todo o descontrole demonstrado na seleção adulta, Neymar foi mantido como capitão (decisão até certo ponto compreensível, já que não há outros atletas com perfil de liderança na equipe olímpica), mas não conseguiu guiar o time nem dentro nem fora de campo. Voltando das férias, está com o pé descalibrado, sobretudo nas bolas paradas. Não tem sido fominha como em outros momentos – pelo contrário, é até generoso nos passes – mas ainda não se entendeu com os “Gabrieis”. No segundo jogo, voltou a se irritar com a arbitragem e com os rivais e se negou a dar entrevistas. Neymar “se livrou” das críticas pelo 7 a 1 pois estava lesionado, mas será duramente cobrado pela torcida caso o ouro inédito não venha.
Gabriel Jesus
O atacante do Palmeiras chegou radiante à seleção olímpica. Artilheiro do Brasileirão e elogiado por sua técnica e “cabeça boa”, Jesus definiu, já na Granja Comary, seu próximo destino: a partir de 2017, jogará no Manchester City de Pep Guardiola. O jogador de 19 anos garante que a transferência não influenciou em seu rendimento. Fato é que Jesus faz, por enquanto, uma Olimpíada desastrosa. Perdeu um gol feito diante da África do Sul e foi infeliz em quase todas as suas escolhas contra o Iraque. Deu a cara a tapa e disse aos jornalistas que está pronto para reagir. Mas já tem seu lugar no time ameaçado.
Rogėrio Micale
O treinador baiano de carreira vitoriosa nas categorias de base deixou ótima impressão em seus primeiros momentos de fama nacional. Bem articulado, sereno e com concepções de jogo bastante “atualizadas”, disse que investiria em um time ofensivo. Atė por isso, não há como defendê-lo depois de dois jogos sem gols. As tão faladas triangulações e transições rápidas não foram vistas e os atacantes parecem não se entender em campo. O meio-campo é o maior problema, com Felipe Anderson sumido e Renato Augusto em ritmo lento, assim como o substituto imediato Rafinha. Nos dois jogos, as mudanças de Micale não surtiram efeito. Agora, terá que encontrar um substituto para o melhor jogador da campanha, o volante Thiago Maia, suspenso.
Renato Augusto
O meio-campista de 27 anos, chamado para o lugar do cortado Douglas Costa, deveria ser um dos líderes do time, mas já se transformou no maior alvo da torcida. Lento e pouco inspirado, Renato não vem conseguindo repetir a função que o consagrou no Corinthians no ano passado. Não merecia as vaias individualizadas e tão estridentes que recebeu nas duas partidas em Brasília, mas é certamente um dos problemas do time. Ao menos teve personalidade de encarar dezenas de microfones depois das partidas em que foi massacrado. Garantiu que está em ótima forma física mesmo jogando no futebol chinês há seis meses. Não é o que parece.
Meio-campo
Se o trio de ataque já estava definido havia semanas, o meio-campo era e segue sendo um dos pontos de interrogação de Micale. Thiago Maia, apesar de sobrecarregado, vem dando conta do recado com muito vigor físico e personalidade (mas está suspenso para o jogo contra a Dinamarca). Muito tímido, Felipe Anderson (Lazio) tem dificuldades para jogar centralizado. O mesmo ocorreu com Rafinha Alcântara (Barcelona) ainda tenta se reerguer após uma série de lesões graves. Nas duas partidas, Micale apostou na entrada de Luan (Grêmio), que até teve algum destaque, mas é atacante de origem e não consegue resolver o buraco no meio-campo.
Ansiedade
O Brasil, que já perdeu duas Copas do Mundo em casa, mais uma vez não vem conseguindo lidar com a pressão de ter que agradar a cada vez mais exigente torcida. O time, que já se mostra desorganizado, peca ainda mais pela falta de frieza para concluir. As, por vezes exageradas e fora de propósito, certamente não ajudam. Mas os jogadores, apesar de jovens, já deveriam ter experiência suficiente para lidar melhor com a situação. Até porque uma eliminação na primeira fase certamente não será tolerada na Fonte Nova.Fonte:Veja