A cúpula do PMDB quer fazer das eleições de outubro uma prévia da disputa presidencial de 2018, mostrando que o mapa do poder passa pelos municípios. A meta da legenda é conquistar 1.200 prefeituras – 23% mais que o número de cadeiras hoje ocupadas pelo partido – e fincar estacas não apenas nas capitais como em grandes polos urbanos, com mais de 200.000 habitantes.
Se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff for confirmado, como prevê até o PT, será a terceira vez que o PMDB entrará na campanha municipal tendo o comando do país sob sua responsabilidade, mesmo sem receber votos para esse cargo. Foi assim em 1985, quando José Sarney tomou posse após a morte de Tancredo Neves, e em 1992, ano em que Itamar Franco assumiu o Planalto no lugar de Fernando Collor.
PT terá o menor número de candidatos dos últimos 20 anos
Com o diagnóstico de que a rede de prefeitos é fundamental para pavimentar seu caminho nos próximos dois anos, o PMDB vai aproveitar a atual temporada política para pedir um voto de confiança. “Essa eleição é o grande alicerce para 2018”, afirmou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. “Vamos nacionalizar o desgaste do PT”, emendou o senador Romero Jucá (RR), presidente em exercício do PMDB. Jucá foi ministro do Planejamento do governo interino de Michel Temer por 12 dias, mas pediu demissão após ser citado na Lava Jato.
No Planalto, ninguém admite oficialmente que Temer possa vestir o figurino de candidato do PMDB, em 2018. Dez dias depois de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter dito, em entrevista ao Estado, que, se a economia estiver bem, Temer será esse nome, articuladores políticos do governo ainda atuam para jogar água na fervura. Tentam evitar fraturas na base aliada, que abriga o PSDB. “Nós não podemos correr esse risco”, disse Padilha. “Temos muitos projetos importantes para votar no Congresso e ainda há muita água para rolar debaixo da ponte até 2018.”
O cenário ficou mais nebuloso após tratativas para delação do empresário Marcelo Odebrecht – preso há mais de um ano – apontarem para Temer e Padilha. No Planalto, todos minimizaram o episódio, sob o argumento de que o auxílio financeiro da Odebrecht a campanhas do PMDB ocorreu “em absoluto acordo” com a lei.
Diante da proibição do financiamento de empresas nesta disputa, o PMDB lançará nos próximos dias uma plataforma de coleta de doações, batizada de Mais que Voto, pela qual os candidatos podem ter uma espécie de tesouraria virtual para prestação de contas. O programa online também “pesca” doadores – sempre pessoas físicas – e tem um alerta que avisa sobre erros, para evitar percalços nesses tempos de Operação Lava Jato.
Na última disputa municipal, em 2012, o PMDB elegeu o maior número de prefeitos (1.024). Hoje, tem 974, administra duas das 26 capitais – Rio de Janeiro e Boa Vista – e encabeçará a chapa em quinze delas. Em todo o país, o partido lançará cerca de 2.500 candidatos.
Para que o projeto de Temer avance, no entanto, a prioridade é derrotar o PT em São Paulo e eleger a senadora Marta Suplicy, que tem como vice o vereador Andrea Matarazzo (PSD). Ex-petista, Marta vai desafiar o prefeito Fernando Haddad (PT). Os dois exibem alto índice de rejeição.
Pesquisas encomendadas pelo PMDB indicam que a maior preocupação dos brasileiros, hoje, é com o desemprego. O medo de perder a fonte de renda vem antes da apreensão com a falta de segurança e das queixas sobre o sistema de saúde.
Para associar as promessas de Temer de consertar o país com as eleições municipais, os candidatos do PMDB às prefeituras foram orientados a usar o slogan “Partido que Muda o Brasil” em suas propagandas. O presidente em exercício não subirá em palanques nem participará da propaganda de concorrentes do PMDB no rádio e na TV, ao menos no primeiro turno, para evitar que confrontos entre aliados contaminem a relação no Congresso.
O embate, porém, já começou. Com três possíveis candidatos ao Palácio do Planalto – o chanceler José Serra; o senador Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin –, o PSDB não gostou de ver Maia lançando Temer e já deu estocadas no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, Meirelles é outro nome sempre lembrado para disputar a Presidência da República e provoca ciúmes no núcleo político do governo.
Aos 50 anos, visto como uma “federação de partidos” por causa de suas divisões internas, o PMDB fará de tudo, nessa campanha, para se livrar do carimbo de “golpista” que o PT quer pregar em Temer e seus seguidores. O presidente em exercício também age para se desvincular de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandou a Câmara durante um ano e cinco meses e está prestes a ter o mandato de deputado cassado por denúncias de corrupção.
(Com Estadão Conteúdo)