No ritmo em que vão as coisas, o ex-deputado é candidatíssimo à cadeia. Será que vai se entender com Janot, seu inimigo, e fazer uma delação premiada?
E o que acontece agora com Eduardo Cunha? Pois é… Eis uma boa questão.
De imediato, os processos que lhe dizem respeito migram para a primeira instância, a menos que, por razões processuais, este ou aquele caso fiquem no Supremo porque há outros investigados com foro especial. Mesmo em casos assim, em regra, o Supremo tem feito a divisão.
Cunha, assim, a exemplo de sua mulher e de sua filha, migra agora para a 13ª Vara Federal de Curitiba, onde dá as cartas o juiz Sergio Moro. Não custa lembrar que já uma denúncia aceita contra ele. Mais um pouco, pode receber a primeira sentença. Mais: Moro já evidenciou em outros casos que não hesita em decretar prisão preventiva se julgar haver indícios de ameaça à instrução criminal — meter-se com provas ou com testemunhas — ou risco à ordem pública: iminência do cometimento de novos crimes.
Não é preciso ser muito bidu para chegar à conclusão de que, em sendo verdade bem menos da metade do que se diz sobre Eduardo Cuinha, ele acabará indo para a cadeia — e, a depender do que decida o Supremo em breve, já a partir da condenação em segunda instância. Se é que que será condenado. Também tendo a achar que sim.
É evidente que isso faz de Cunha um candidato preferencial a uma delação premiada, daquelas de fazer tremer a República, Brasília e o resto.
Mas também não é menos verdade que algumas dificuldades estão dadas. Nesse tempo, Cunha transformou Rodrigo Janot num inimigo pessoal. E a recíproca não é menos verdadeira. O amor que lhe dedica o procurador-geral se traduz, por exemplo, na rapidez com que as investigações sobre Cunha avançaram.
Sabemos não ser a regra da operação. Acho, sim, que Cunha tem razão quando infere que o MPF demonstra um particular interesse por sua pessoa. A questão, chata pra ele, é que se pode dizer como no meu interior: “A cada enxadada, uma minhoca”.
Mais: já chamei aqui a atenção para uma coisa e reitero agora. Cunha não é um desses que foram pegos meio desavisados e acabam falando as coisas no susto. Nem um empresário especializado em concreto armado que decide pagar alguns picaretas da vida pública. Cunha é um político. Sua eventual delação teria de ser vista com lupa. Ou alguém duvida que ele está a fazer, nesse momento, a lista dos traidores?
Restaram 59 parlamentares com ele entre ausências, nãos e abstenções. Amizade ou medo? Sabe-se lá. Só vale a pena Cunha eventualmente falar o que sabe no âmbito de uma delação. Ou ele arruma alguns inimigos novos sem obter nenhum benefício com isso.
E inteligente, convenham, ele é.Fonte:Reinaldo Azevedo