Acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de ter feito pressão para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovasse um empreendimento em Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, deu o assunto por encerrado depois de admitir que tratou do assunto com o ex-colega de Esplanada. Procurado pelo site de VEJA, o ministro afirmou que está confortável em seu cargo. “A vida segue e vou trabalhar normalmente. Esse é um episódio superado”, diz.
Geddel também comentou o fato de Jayme Vieira Lima Filho, seu primo e sócio no restaurante Al Mare, ter um escritório de advocacia que defende a Cosbat, a empreiteira responsável pelo prédio de Salvador. “Não vejo problema. Ele é um profissional liberal, trabalha para quem ele quiser. Não posso responder por ele”, diz.
Questionado sobre o fato de ter conversado com Calero sobre um assunto pessoal, que nada tem a ver com sua Pasta, Geddel afirma: “Converso sobre tudo com todas as pessoas do governo. Não tem problema nenhum nisso”.
No sábado, o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Mauro Menezes, anunciou que vai levar o caso ao colegiado na manhã de segunda-feira.
“Verdades e inverdades”
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Geddel admitiu ter conversado com Calero sobre o empreendimento, mas disse que o ex-ministro contou “verdades e inverdades”. “Lamento profundamente essa declaração do Calero, com quem eu sempre tive uma relação afável e tranquila. Não tive nenhum desentendimento, nenhum bate-boca com ele. Ele diz uma verdade e muitas inverdades”, disse. Confira a entrevista:
Quais seriam as inverdades? As inverdades é que eu teria dito, por exemplo, que iria pedir a cabeça da presidente do Iphan, que eu poderia tratar com o presidente da República. Eu nunca tratei desse tema com o presidente da República. Nada, absolutamente nada. Aí há um certo exagero.
E qual seria a verdade? A verdade é que eu tratei do tema com ele sob a ótica de que: “Calero, tem que tomar cuidado com isso. Esse assunto está em discussão na Bahia há muito tempo. Está judicializado. Já tá na Justiça há muito tempo e isso termina gerando insegurança política para quem comprou unidade, isso termina gerando desemprego na cidade, mas sem nenhuma pressão indevida”. Tanto não há pressão que a posição ao final e ao cabo que prevaleceu foi a dele. Não estou entendendo e me surpreendo que venha isso agora. A posição que prevaleceu, apesar de eu ter uma visão diferente desse processo, mesmo ele judicializado, foi a dele. Os incorporadores vão buscar agora reparos tanto administrativos tanto na Justiça. A posição dele prevaleceu.
Houve ou não houve pressão? Que pressão é essa? Tratei com o Calero com tranquilidade, por telefone, até porque não tenho medo de tratar por telefone, de estar grampeado. O que eu trato por telefone eu trato publicamente. Qual a ilegalidade que há nisso? Qual a imoralidade que há em tratar desse tema com um colega meu? Nunca tratei desse tema com o Iphan, nunca fiz pressão no Iphan. Tratei com ele, nunca tive briga com ele.
Mas o senhor tem esse apartamento? Tenho uma promessa de compra e venda de um apartamento no empreendimento de 2015, no 23º andar. Adquiri um apartamento depois de morar 22 anos no meu antigo apartamento. Eu pretendia mudar com a minha família. Mas isso não me tira a legitimidade. Aliás, me dá legitimidade para mostrar que o que estava se fazendo era um equívoco.
E o Iphan só autorizou a construção até o 13º andar? Isso foi agora! O Iphan da Bahia, a prefeitura, todos deram a licença. A obra foi lançada, várias pessoas compraram.
O ex-ministro Calero afirma que o Iphan da Bahia teria liberado a licença do projeto porque o superintendente regional teria sido indicado pelo senhor. Não é verdade. A pessoa que está lá não foi indicada por mim. Essa licença foi dada pelo Iphan, me parece, em 2014, quando eu estava na oposição ao governo federal, ao governo baiano, em todos os lugares.
Por que o senhor acha então que ele deixou o cargo, se não havia pressão? Não tenho a menor ideia. Agora pare e pense uma coisa: a minha pressão, segundo ele, não deu resultado. A posição dele foi a que prevaleceu.
O senhor conversou com o presidente Michel Temer. O que ele falou disso? Falei de manhã com Temer. Eu liguei para o presidente e ele disse: “Apresente sua resposta com tranquilidade”. Não tem nada de problemático disso não, só o desgaste. Recebi dele o maior apoio. Sereno, tranquilo, ele compreende perfeitamente.
Temer pediu o cargo? Não. Deixar cargo por isso? Pelo amor de Deus!
O senhor não se sente desconfortável de continuar no governo? Por que desconfortável? Por causa de uma fala de um ex-ministro que não está falando a verdade inteira? Eu tratei do tema com absoluta transparência. O que me deixaria desconfortável? Onde é que tem maracutaia, problema, irregularidade nisso? Lamento que o ministro saia nessas circunstâncias.
O presidente da Comissão de Ética da Presidência, Mauro Menezes, disse que vai analisar o caso amanhã. Algum receio? Algum constrangimento? Nenhum, nada.
(Com Estadão Conteúdo)