A Polícia Federal concluiu nesta segunda-feira, em novo relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal, que o presidente Michel Temer praticou o crime de obstrução de Justiça. Segundo a PF, Temer “embaraçou a investigação” ao “incentivar” a manutenção de “pagamentos ilegítimos” ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao não ter acionado as autoridades competentes quando ouviu o empresário Joesley Batista dizer que estava “comprando” e “segurando” procuradores e juízes para obter benefícios em investigações contra ele.
As constatações se baseiam na conversa travada entre Temer e Joesley num encontro não oficial ocorrido na noite do dia 7 de março, no Palácio do Jaburu. O executivo gravou secretamente o diálogo e entregou o áudio à Procuradoria-Geral da República para conseguir fechar o acordo de delação premiada, que, no fim, concedeu-lhe imunidade penal para todos os crimes confessados até aquele momento.
O áudio foi periciado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF, que afastou a possibilidade de adulteração nos arquivos — a defesa de Temer questionava a integridade das gravações apresentadas por Joesley. O laudo foi anexado nesta segunda-feira no processo que investiga o presidente pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, instaurado a partir das delações premiadas da JBS.
Na conversa, Joesley fala sobre iniciativas que estaria tomando em relação a Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba desde outubro de 2016 e já foi condenado a quinze anos de prisão pelo juiz Sergio Moro. O executivo diz que havia “zerado as pendências” e que estava “de bem” com o deputado cassado. Temer, então, responde: “É, tem que manter isso, viu?”. Este trecho foi transcrito no relatório com base na análise da PF.
O relatório da PF também pede, a partir das investigações contra Temer, que os ministros do STF decidam se o peemedebista deve ser incluído como investigado no inquérito 4327 do Supremo, que apura os crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente cometidos por integrantes do chamado “PMDB da Câmara” em contratos de estatais, especialmente a Caixa Econômica Federal. Entre os investigados estão aliados de Temer, como os ex-deputados federais Eduardo Cunha e Henrique Alves, o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), além do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro.Fonte:Veja