Uma notícia divulgada na semana passada durante o Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, realizado na Suíça, colocou em xeque uma antiga verdade associada à fertilidade humana. Pesquisadores da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, apresentaram no encontro um estudo cujas conclusões indicam que o relógio biológico do homem, a exemplo do que faz o feminino, influencia a capacidade masculina de reproduzir. Até hoje, acreditava-se que a idade tinha impacto somente sobre a força reprodutiva da mulher, que já nasce com um número programado de óvulos e cuja qualidade declina com o passar dos anos.
O resultado chamou a atenção por ser derivado de uma pesquisa sólida, realizada por um grupo respeitado de cientistas. Eles levantaram as taxas de gestações em fertilização in vitro (união do óvulo e do espermatozóide em laboratório) feitas em clínicas de Boston entre 2000 e 2014. No total, foram avaliados 19 mil ciclos do procedimento em 7,7 mil casais. Quanto mais velho o homem, menor a chance de sucesso da gravidez. “Há uma redução significativa da incidência de nascimentos entre mulheres cujos parceiros têm mais de 40 anos”, afirmou Laura Dodge, coordenadora do estudo.
Uma hipótese é que a passagem dos anos prejudicaria a qualidade do gameta masculino
A informação abre o caminho para uma nova linha de investigação. É preciso saber, por exemplo, se os resultados se repetem nas concepções naturais e, principalmente, por que a idade biológica masculina interfere na taxa de gravidez. “Uma hipótese é a piora da qualidade do espermatozóide”, afirma o médico brasileiro Giuliano Bedoschi, especialista em reprodução assistida. Ele acompanhou na Suíça a divulgação do trabalho americano. Há alguns fatores que sabidamente prejudicam a funcionalidade do gameta masculino. A poluição é uma delas.