Mesmo condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro,o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece à frente na corrida eleitoral com 37% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha divulgada nesta quarta-feira (31). Apesar do questionamento sobre a integridade da pesquisa, o cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Claudio Souza não se surpreendeu com o resultado.
"A porcentagem do eleitorado que vota em Lula é mais ideológico. É uma parcela que apoia o PT, que votou em Dilma [Rousseff] e que acredita que há um processo injusto no julgamento do ex-presidente", disse. Para ele, esse eleitorado se convenceu que há problemas nas provas desde o impeachment de Dilma.
"A Lava Jato se acostumou com uma espetacularização: mostraram malas, a prisão de Geddel [Vieira Lima], divulgaram os áudios de [Michel] Temer na delação da JBS e várias provas explícitas. Contra Lula não há nada a não ser uma visita e a ideia de que ele quase recebeu um apartamento reformado", explicou. Desta forma, para maior parte dos eleitores de Lula se apoia no pilar da injustiça no julgamento.
A professora do curso de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Victória Espiñeira, acredita que a liderança de Lula na pesquisa é espelho do resultado dos governos dele e do contexto político em que nos encontramos. "Até o final da gestão ele teve um percentual altíssimo de aprovação, isso ficou na memória das pessoas. Ele é uma figura forte em toda América Latina, tem um discurso que atinge camadas mais baixas da população", pontuou. Segundo ela, a discussão sobre o impeachment também deixou de certa forma um vazio no imaginário das pessoas que eram contra a medida. "Essa parcela do eleitorado ficou a espera que a mobilização gerasse algum tipo de resultado", comentou.
Apesar de estar à frente nas intenções de voto, Lula também aparece com 40% de rejeição. Souza pontua que ao contrário do que possa se pensar o que houve foi uma queda na rejeição considerando outras pesquisas da Datafolha. "É incrível como a liderança pessoal e política do ex-presidente tem sido colocada de modo favorável a uma ideia de que, para parte de seu eleitorado, ele está sendo perseguido", afirmou. Mesmo se o teto de rejeição se mantiver em 40%, é possível que a aversão diminua por conta dos eleitores que rejeitam Lula parcialmente.
"Embora a imagem do ex-presidente tenha sido afetada nos últimos anos pela questão da corrupção, o que paira é que o sistema político brasileiro tem sofrido com o mesmo problema", explicou. Por conta disso, ele acredita que em 2018 será difícil para qualquer partido relevante construir o marketing eleitoral de sigla honesta e "de que o grande mal é o PT".
Ao mesmo tempo em que o PT divulgou a pesquisa citando o ex-presidente como "inabalável", a professora da UFBA notou o crescimento recente de uma resistência a Lula que se diferencia de um antipetismo que estava em voga. "Podemos ver inclusive que o governador Rui Costa, por exemplo, continua crescendo sem receber essa 'munição' ou resistência forte que Lula está recebendo", disse.
O cientista político da Unilab discorda. "Eu diria que temos mais um antipetismo do que um antilulismo, mas eles são complementares e acabam por ser duas faces da mesma moeda. Há a visão de que a construção da imagem de Lula é muito ligada a imagem do PT", disse. Segundo Souza, movimentos como o Brasil Livre (MBL) escolheram durante o impeachment, por exemplo, não bradar apenas Fora Dilma. "Eles optaram também por gritar fora PT para dar uma dimensão mais ampla de combate a um projeto político que eles abominam, que envolve não só Lula, mas também os movimentos sociais, por exemplo", explicou.Fonte: Bahia Noticias- Ana Cely Lopes / Bruno Luiz