Há uma semana, do outro lado do Central Park, fãs babavam por celebridades desfilando pelo tapete vermelho do tradicional baile de gala do Metropolitan. Mas diante do Museu de História Natural, o clima foi outro.
Sob forte chuva, com protesto e batuque na porta, uma parte endinheirada do establishment político e econômico do Brasil e dos Estados Unidos subiam os degraus para o jantar do prêmio Pessoa do Ano, que homenageia Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e o juiz federal Sergio Moro, alvo de parte do ódio que se concentrava ali.
Eles eram cerca de 60 manifestantes e gritavam “golpista”, “vergonha”, “Moro salafrário, juiz partidário” com faixas dizendo “Lula livre”. Queriam azedar o banquete oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Moro, a estrela da noite, entrou por uma porta fora do campo de visão, mas seu nome e o do ex-presidente que ele condenou no caso do tríplex ecoavam pelo Upper West Side num grito de guerra que ainda separa coxinhas e mortadelas.
Não faltaram barracos. Uma mulher no protesto chamava todas que entravam de “cafona”, “ridícula” e “decadente”, às vezes de “pobre de direita”. E as mulheres de salto e vestidos que pareciam de madrinha de casamento perdiam a compostura, revidando com o dedo do meio em riste. Umas atiraram objetos difíceis de distinguir na tempestade em direção aos manifestantes.
Dois homens quase saíram no braço. O motorista de uma Mercedes preta, que acabava de deixar um convidado da festa do museu, xingou e foi xingado de volta. De brinde, levou uma cusparada que diz ter arruinado seu blazer “Brooks Brothers de US$ 100” —ele é brasileiro e conta estar há 30 anos em Nova York.
Outro chofer, enquanto ajudava uma mulher de longo e salto a navegar pelo furdunço na porta, mandou os manifestantes irem trabalhar. “Trabalhar ninguém quer, protestar que é bom”, dizia em português. “Volta pro Brasil, cambada.”