Segundo religioso a visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula na Silva na prisão, o monge Marcelo Barros relatou em carta nesta segunda-feira (14) detalhes de seu encontro com o petista.
Barros disse no texto ter encontrado Lula sentado à mesa, diante de livros recebidos pelo teólogo Leonardo Boff, que o visitou no dia 7 de maio.
"De saúde, estou bem, sereno e firme no que é meu projeto de vida que é servir ao povo brasileiro como atualmente tenho consciência de que eu posso e devo. Você veio para me trazer um apoio espiritual", disse Lula ao monge, segundo seu relato. "E o que eu preciso é saber como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima, sem dar lugar ao ódio."
Na conversa, Lula contou histórias de sua infância. Entre elas, o dia em que resistiu à tentação de roubar uma maçã para não decepcionar a mãe, escreveu o Monge. "E aí ele prosseguia com lágrimas nos olhos: 'Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência e nunca me permiti ir com Marisa [Letícia, sua mulher, já falecida] a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém. Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia. E agora, os caras me tratam dessa maneira'", disse Lula durante a visita de Barros.
Antes de encerrado o tempo do Monge na cela, o petista mostrou fotos de família e os dois oraram de mãos dadas. Lula mandou ainda um recado aos apoiadores acampados em vigília. "Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim", disse.
E continuou: "Creio que na realidade atual eu tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais."