No mesmo ringue que o ex-boxeador Popó (PDT) enfrentará sua próxima luta, o cantor gospel Irmão Lázaro (PSC) empunhará seu violão e buscará votos com o gingado que aprendeu com os tambores do Olodum.
Já o apresentador de televisão José Luiz Datena não mais questionará "cadê as autoridades que não veem isso?". Se eleito senador, ele mesmo será a autoridade.
Na eleição mais conturbada desde a redemocratização do país, pelo menos cinco famosos disputarão uma cadeira no Senado –dois cantores, dois apresentadores de televisão e um ex-campeão mundial de boxe.
Aliando experiência política e perfil outsider, eles apostam na popularidade que têm para transformar em votos suas respectivas bases de fãs. E contam com o sentimento de renovação do eleitorado para conquistar novos eleitores.
Datena confirmou que deve disputar a eleição para o Senado por São Paulo. Filiado ao PT por mais de 15 anos, ele migrou para o DEM e deve ser candidato na chapa liderada pelo ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB).
Caso seja eleito, pode ter um de seus melhores amigos como colega no Senado: o também apresentador de televisão e jornalista esportivo Jorge Kajuru (PRP), que disputará uma cadeira de senador por Goiás.
Há dois anos, Kajuru foi o vereador mais votado da história de Goiânia com 37 mil votos. Na Câmara, apostou forte nas redes sociais online e adotou medidas com apelo junto ao eleitorado, como a doação integral de salário de vereador.
"Entrei na política por missão, não por dinheiro. Sou um antipolítico profissional", define-se o vereador, que atualmente negocia com os pré-candidatos ao governo Daniel Vilela (MDB) e Ronaldo Caiado (DEM), ambos da oposição.
No Piauí, a novidade é o cantor de forró Frank Aguiar (PRB). O "cãozinho dos teclados", conhecido pelo gritinho que virou sua marca pessoal –"auuuuuuu"– tentará o voo mais alto de sua carreira política.
Depois de ter sido deputado federal por São Paulo (2007-2009) e vice-prefeito de São Bernardo do Campo (2009-2016), o cantor voltou para sua terra natal para tentar chegar ao Senado --mas sem deixar de lado seus shows de forró.
"Todo migrante quer sair, vencer na vida e voltar para sua terra. Comigo não é diferente, por isso vou ser candidato pelo meu Piauí", afirma o cantor, ao justificar a mudança de domicílio eleitoral.
Para as eleições, ele negocia integrar a chapa liderada pelo governador Wellington Dias (PT). Mas, caso não tenha espaço, diz que pode negociar com candidatos da oposição ou até mesmo sair em chapa avulsa.
A situação é semelhante às do ex-boxeador Popó e do cantor Irmão Lázaro, que prometem ser candidatos ao Senado pela Bahia mesmo em candidaturas independentes.
Filiado ao PDT, partido da base do governador Rui Costa (PT), Popó tem chances praticamente nulas de ser candidato com o apoio do petista. Mas diz ter a seu favor experiência política --foi deputado federal de 2011 a 2015-- e o sentimento de renovação do eleitorado.
Já o deputado federal e cantor Irmão Lázaro (PSC) aposta no eleitorado mais conservador e em sua trajetória ascendente na política: foi o terceiro deputado mais votado na Bahia em 2014, quando fez sua estreia na política.
A votação não surpreendeu os aliados: Lázaro é um dos cantores mais populares do país. Costuma postar vídeos com mensagens motivacionais no seu Facebook, onde tem 8 milhões de seguidores –mais que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), seu aliado, que é acompanhado por 5,4 milhões.
Sua trajetória na música inclui passagens pelo Olodum, onde foi um dos cantores nos anos 1990, e pela banda Cão de Raça, liderada pelo reggaeman Edson Gomes. Convertido, apostou na música evangélica.
Mesmo com tamanho sucesso, diz que sabe que será difícil ser eleito apenas com os votos de seus fãs na Bahia. Por isso, recusa a pecha de candidato da bancada evangélica: "Serei o candidato da família".
A história recente mostra que a estratégia "candidato-celebridade" vem ganhando espaço nas últimas eleições para o Senado. Em 2014, elegeram-se o ex-jogador de futebol Romário (RJ) e o apresentador de televisão Lasier Martins (RS).
Quatro anos antes, a também apresentadora Ana Amélia foi eleita pela Rio Grande do Sul e o cantor Netinho de Paula chegou perto em São Paulo, ficando em terceiro lugar numa disputa por duas vagas.
Nas eleições deste ano, a presença de famosos preocupa não só os adversários, mas também possíveis companheiros de chapa. Em São Paulo, onde em 1994, 2002 e 2010 foram eleitos senadores de chapas diferentes, a ascensão de Datena pode significar um revés para José Aníbal, pré-candidato do PSDB.
O mesmo pode acontecer no Piauí, onde Frank Aguiar ameaça caciques como o senador Ciro Nogueira (PP) e o ex-governador Wilson Martins (PSB).