Vindos de várias partes do Brasil, milhares de simpatizantes do ícone da esquerda vão marchar até a sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para acompanhar os membros do PT que vão efetivar no último dia do prazo sua improvável postulação às eleições de 7 de outubro, com um eventual segundo turno no dia 28.
Entre eles estará o eleito de Lula para vice, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, visto por muitos como o potencial substituto caso seja impugnada a candidatura do ex-presidente. Desde abril, Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Aos 72 anos, Lula é o favorito nas pesquisas, com cerca de um terço das intenções de voto, quase o dobro de qualquer um dos outros 12 candidatos.
Mas a candidatura do ex-presidente muito provavelmente será invalidada, segundo juristas, pois a Lei da Ficha Limpa, promulgada sob seu governo, torna inelegível condenados em segunda instância, seu caso.
O TSE, que tem até 17 de setembro para o futuro de Lula, vai durar alguns dias, senão semanas, para decidir.
Haddad pediu na terça-feira que a candidatura de Lula seja analisada com critério e acusou adversários de Lula e a imprensa de estarem “fazendo pressão”.
Se a candidatura de Lula for de fato impugnada, o PT teria, então, pouco tempo para fazer campanha por Haddad, com a incógnita de se conseguiria transferir para ele os votos do carismático ex-presidente.
Uma aposta, segundo analistas, que é muito arriscada.
Para o cientista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, o que está em jogo com essa estratégia “é o futuro do PT como o principal representante da centro-esquerda no Brasil”.
“Dificilmente o Haddad ganhará esta eleição”, mas “o PT apresentará sua nova cara para os próximos pleitos”.
Ou ficará sem nenhuma…
O PT soma reveses desde a destituição da presidente Dilma Rousseff pelo Congresso em 2016, seguida de uma contundente derrota nas eleições municipais daquele ano e da prisão de muitos de seus líderes históricos, incluindo a de seu cofundador.
– 2.000 km por Lula –
Acampados desde terça-feira em um terreno baldio ao lado do estádio Mané Garrincha, cerca de 4.000 manifestantes, segundo dados da Polícia Militar do Distrito Federal, vão marchar nesta quarta-feira por 6 km em direção ao TSE, em apoio a Lula.
O ex-presidente foi condenado como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, oferecido pela construtora OAS em troca de sua mediação em contratos com a Petrobras.
Ele enfrenta outros cinco processos, mas se declara inocente em todos e denuncia uma perseguição político-judicial para impedi-lo de voltar ao poder.
E seus partidários acreditam.
Adrovando Brandão, microempresário de 40 anos, viajou mais de 2.000 quilômetros de ônibus de São Luís, no Maranhão, até a capital para defender a candidatura de Lula, que tem voto garantido nas classes pobres e médias, sobretudo no nordeste do Brasil.
“O Lula é nosso único candidato. Em cabeça de juiz pode passar qualquer coisa. Hoje, o nosso Judiciário é preso a interesses, externos e internos. Mas amanhã vai ser um grande dia pela democracia”, acrescentou.
Como exemplo, Brandão mencionou o imbróglio judicial que o país viveu em 8 de julho, com uma série de ordens e contraordens para soltar Lula, que terminaram deixando o ex-presidente atrás das grades.
Na semana passada, uma dezena de juristas europeus, entre eles o ex-juiz anticorrupção espanhol Baltasar Garzón, expressou sua “preocupação” com as “sérias irregularidades” na condenação de Lula, em carta dirigida à presidente do Supremo, Cármen Lúcia.Fonte:ISTOÉ.COM